jlg
cinema

  rj  
Os anos loucos

A partir da época em que o jornalismo começou a se desenvolver em bases industriais, o modo de contar e de registrar a História da Humanidade deslocou-se em definitivo para o seu âmbito, passando a um segundo plano o testemunho ou relatos pessoais, isolados, que hoje em dia limitam-se ao papel de interpretar os fatos. Uma nova sistemática de arquivar o passado, que ficou entregue ao dia-a-dia da Imprensa. Posteriormente, o avanço industrial permitiu o registro via imagem (fotografia) e, então, já na era da segunda revolução industrial (automação, hegemonia dos critérios de reprodução sôbre a faixa artesanal) o cinema trouxe à documentação jornalística um elemento decisivo, dado o seu poderio de transmitir e gravar a imagem fotográfica em movimento e, mais tarde, também com o refôrço sonoro. Com isso, basta o aspecto documental, para dar ao filme os foros de máquina do tempo.
Os Anos Loucos (Les Annés Folles), que aqui nos chega com cêrca de oito anos de atraso (trata-se de uma produção de 1960) - e após alguns meses de ridículas peripécias burocrático-policiais, sob o patrocínio de uma censura que é uma ofensa à cultura - bem representa uma dessas facêtas do cinema como máquina do tempo. Através de um trabalho de montagem de fitas de atualidades, reedita, com o acréscimo posterior do acompanhamento musical de Georges Van Parüs e Tzipine, um período enquadrado entre 1919 e 1929, mas que, a rigor, inicia-se com as filmagens do fim da guerra de 1918. Escorrem as imagens entre dois acontecimentos básicos: o Tratado de Versalhes e a ascensão de Hitler. Os realizadores da fita, Mirea Alexandresco e Henri Torrent, exprimem o fato de que, pelo menos os parisienses, só tomaram conhecimento do emergir de um nôvo século depois de acabada a guerra. Ai, então, foi o delírio, a epopéia dos grandes inventos, revoluções, esporte, vanguardas na arte, cinema, entretenimento, ascensão da mulher - tudo isso por causa da industrialização galopante dos objetos de consumo, a coincidir, inclusive, com a aparição da figura social do noveau riche; a Europa, sem saber, em plena folia, começava a virar terceiro mundo, coisa que só ficaria definitivamente nitida após o término da II Grande Guerra, quando EUA & URSS dividiram a Terra em zonas capitalistas e socialistas.
Entre as marchas militares e o charleston, inúmeras personalidades – mortas e/ou imortáis - que emergem em
Les Annés Folles: Clemenceau, Trótski, Stalin, Lenin, Hitler, Hoover, Gandhi, Paul Valéry, Paul Claudel, Barrés, Maiakóvski, Bernard Shaw, Josephine Baker, Carlos Gardel, Lindberg, Pavlova, AI Capone, Dillinger, Eleonora Dusel, ou Rodolfo Valentino. Num caso, por exemplo, como o das inserções de cenas de filmes, como a de O Sheik, ganha evidência a dialética radial entre documentário e ficção, proposta pelo cinema moderno, desde os teóricos da nouvelle vague e que, no entanto, já deveria ser o "óbvio ululante", a partir da descoberta do filme em si. Pois colocada no bôjo da montagem de Os Anos Loucos, a cena de O Sheik, em lugar de ficção, transforma-se em documentário.
Evidencia-se isto: a História da Humanidade (onde se inclui a do próprio cinema) já começa a ser narrada pelo filme. E o que não se dirá da pujança de tal método de narração, quando, por exemplo, estivermos no ano 2001 - para ficarmos, na hipótese, com o maior marco criativo e espetacular da mesma sétima-arte? Depois de cinemascope, cinerama, 3D, virão outras invenções, até, talvez, o cinema total, onde o público ficaria localizado dentro da ação fílmica ou acabe mesmo por ingressar naquela máquina concreta do tempo, inventada pelo velhinho Papanatas, personagem das histórias de Brucutu. Enquanto isso não se passa,
Les Annés Folles ganhou, em 1960, o prêmio Leão de São Marcos, em Veneza.

Correio da Manhã
14/11/1968

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

As férias de M. Hulot
Jornal do Brasil 17/02/1957

Irgmar Bergman II
Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

Julien Duvivier
Jornal do Brasil 21/04/1957

Rua da esperança
Jornal do Brasil 05/05/1957

A trajetória de Aldrich
Jornal do Brasil 12/05/1957

Um ianque na Escócia / Rasputin / Trapézio / Alessandro Blasetti
Jornal do Brasil 16/06/1957

Ingmar Berman na comédia
Jornal do Brasil 30/06/1957

562 registros
 
|< <<   1  2  3   >> >|