A melhor coisa dêste filme, o terceiro da série do espião de óculos, Harry Palmer, é baseada nas novelas de Len Deighton, ainda é a apresentação, cujos créditos foram desenhados por Maurice Binder - um espécie de pre-computação sintética do entrecho. Agora, Palmer, que abandonara o serviço secreto da contra-espionagem, é coagido pelo chefe da MP-1, coronel Ross (Guy Doleman), a voltar a entrar em ação, mediante a promessa hipotética de um aumento de 300 libras. A parte central da trama se desenrola em Helsinqui, Finlândia, com filmagens in loco, aonde parte da organização do general Midwinter (Ed Begley, em aparição funcionalmente caricata e esfuziante nas reações) prepara os lances decisivos, sob o comando de poderosíssimo célebro elctrônico, para invadir Riga, capital da Letônia, e livrá-la do "jugo vermelho''. O papel de Palmer (Michael Caine, como sempre) é o de, através de uma pretensa aliança com o ex-colega Leo Newbegin, agora lugar-tenente na organização (Karl Malden) e sua amante (Françoise Dorleac), descobrir os nós da conspiração e desatá-los. Para isso, será necessário chegar ao cara-a-cara com Midwinter, matatu texano que não é "frouxo", como Johnson, pois, como potentado econômico, além do cérebro, já armou um exército inteiro para invadir a Letônia. A sua figura, bastante satirizada e levada mesmo ao ridículo, é bastante familiar também ao nosso folclore político de MACs, CCCs, TFPs ou operação PARASAR. Por isso, no meio de eventos & elementos descosidos ou mal utilizados no roteiro, o aspecto mais interessante não é fun damentalmente cinematográfico, embora se trate, como de hábito na série, de uma produção caprichada e luxuosa. Reside no fato de levar ás últimas consequências a condenação da neurose anticomunista alimentada pela extrema-direita; fazendo com que, no fim de contas, não só russos e britânicos ajam de comun acôrdo, como também conferindo a palma na eficácia (ou na lição de moral do desfecho) à politica soviétíca, tendo à sua testa o coronel personificado por Oscar Homolka. No meio de tudo, coisa mais agradável é a presença - tanto seminua como nos belos close-ups - de Françoise Dorleac (irmã gêmea de Catherine Déneuve), que morreu há alguns meses num desastre de automóvel. E a cena mais insólita é aquela onde, sob os braços de Palmer, no leito, tateia a vértebra onde fincará a agulha mortifera - na visualização de um curioso símbolo contra-fálico. O Cérebro de um Bilhão de Dólares (Billion Dollar Brain), como realização, é inferior às duas anteriores da série de Len Deighton, lpcress - Arquivo Confidencial (The Ipcress File) e Funeral em Berlim (Funeral in Berlin). Também os respectivos diretores, Sidney J. Furie e o especialista Guy Hamilton, eram superiores a Ken Russel, embora isso não diga muito em filmes que são muito mais de produção (administração) do que de cineastas.
Billion Dollar Brain - Direção de Ken Russel - produção de Harry Saltzman, produtor executivo: André de Toth, créditos de Maurice Binder - roteiro baseado na novela de Len Deighton - Intérpretes: Michael Caine, Karl Malden, Françoise Dorleac, Ed Begley, Oscar Homolka e Guy Doleman .
Correio da Manhã
13/11/1968