A Penúltima Donzela insere-se no contexto da linha feijão-com-arroz do cinema brasileiro, da qual o melhor representante êste ano ainda é Os Paqueras. Desenvolvimento escorreito das situações, algumas delas divertidas.
Vale especialmente pela fotografia de José Rosa, com boa sensibilidade tonal dentro das possibilidades do filme brasileiro. Boa parte do clima plástico desenrola-se à la Lelouch, sem falar naquelas sequências que denotam a repetição renitente dos clicks-clicks da objetiva de um personagem, assim como concebeu Antonioni, em Blow-Up.
O tema é o tabu da virgindade. O objetivo do entrecho é o de ridicularizá-lo. Mas consideramos um êrro localizar êsse tabu (como se ainda fôsse padrão) na Zona Sul das praias. biquínis, curras, bolinhas, esquerda festiva, buates, desinibição e outros ingredientes típicos. A saga só se justifica além Central do Brasil. Fregolente, como sempre dinâmico, esfuziante em seu histrionismo, é o pai da menina (Adriana Prieto - simpática) que comanda a guerra santa em favor da pureza e do donzelismo. Para êle, o mau exemplo pagão vem da Rússia, slogan no qual, inacreditavelmente, muitas autoridades ainda acreditam, quando, muito pelo contrário, o status dos costumes na União Soviética é dos mais burgueses, em estilo carola, bastand, para tanto, lembrar até fitas que de lá chegam como A Balada do Soldado, a conferir a impressão de que a Cortina de Feno, em matéria de amor & sexo, é, de fato, um cinto de castidade.
No correr elos quiproquós baseados no argumento de Germana De Lamare, explodem algumas cena realmente engraçadas, a maioria delas em virtude dos delírios de espanto e revolta do mesmo Fregolente, sem falar no desfecho, na hora do casamento, também com a presença de um padre caricaturizaclo por Flávio Migliacio. A realização, assim, assegura-se saudável pelo que encerra de desinibição e, até deboche (pois, às vêzes, vale e é preciso debochar) e em paralelo, novamente por aquilo que através de Os Paqueras, já havíamos caracterizado como ele comportamento hollywoocliano dos atôres, um foco de influências inesgotável, principalmente na maioria dos ramos da comédia.
A Penúltima Donzela assinala, outra vez, o encontro do filme brasileiro digestivo com o público. Ou seja: uma produção despretensiosa, comercial, porém razoavelmente dirigida, pelo estreante Fernando Amaral, e bem administrada, consoante as possibilidades industriais. Ainda no elenco, Paulo Pôrto e Carlos Mossy tem uma aparição satisfatória.
Correio da Manhã
31/10/1969