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Chaplin: o Circo

BERLIM - Decorridos mais de 41 anos, Chaplin relança O Circo para o mundo inteiro. Imenso sucesso de público - a impressão que se tem é a de que, mesmo daqui a um século, os seus filmes continuarão a despertar a catarse típica. Nada envelheceu em Chaplin - só a superfície dá a medida do passado. Não estamos, como acontece com Eisestein, Pudovkin, Griffith ou o expressionismo, diante apenas do fato cultural-museológico, condicionado pelo distanciamento proporcionado pelo tempo. Ver as grandes fitas de Carlitos é como se fôsse na época de estréia, tirando ou pondo muito pouco. Foi isso que The Circus transmitiu no cine Studio de Berlim para uma platéia quase impotente de frear o riso. Idênticamente, ocorre com o tremento êxito em Paris. Não parece haver dúvida: Chaplin foi e ainda é o básico em cinema, o milagre do pathos e do movimento, do dinamismo intrínseco em cada imagem-situação. Hoje, a revalorização, mais do que oportuna, que se processou com referência à obra de outro grande cômico – Buster Keaton (mais refinado e sofisticado ) - fêz com que boa parte dos críticos se esquecesse da baliza chaplinesca. Isto é lamentável - até porque o conhecimento da obra essencial do autor de O Circo ficou represado para as novas gerações. Chaplin insiste em manter a rigorosa parcimônia em liberar suas fitas ao público universal. Resultado: só conhecia O Circo, até agora, com a possibilidade de opinar, quem possuísse cêrca de 60 anos. Repete-se o caso, no tocante à obras tão marcantes na história do cinema, com Luzes da Cidade (reprisada a última vez em 1951), Tempos Modernos (reprisada em 1956) e Monsieur Verdoux (estreada em 1948 no Brasil e nunca mais relançada ao público).
O Circo, tendo a duração de sete bobinas, data exatamente de 7 de janeiro de 1928. Era inteiramente mudo e agora, com vistas à reprise internacional, foi musicado por Chaplin, que já era escritor, diretor e produtor da obra. O fotógrafo, um dos colaboradores habituais, R . H. Totheroth. É uma fita de efeitos notáveis, embora não se alinhe entre aquelas três, que, segundo nossa opinião, constituem as obras-primas do cineasta: City Lights, Modern Times e Monsieur Verdoux. Vem logo abaixo no plano ainda invejável de The Gold Rush, The Kid ou alguns curta-metragens tão notáveis, como Easy Street, The Pilgrim ou Shoulder Arms.
O filme também não oferece aquêle pathos lírico, cujo ponto culminante reside em City Lights. Apesar de ocorrer o mesmo estilo de desencontro amoroso, com a filha maltratada do dono do circo, Merna Kennedy, o ênfase concentra-se no desdobrar da hilaridade em ritmo avassalador. Logo no início há uma correria em pas de quatre (Carlitos, o ladrão, a vítima e o polícia), cujo ponto de convergêncta é uma galeria de espelhos, onde verifica-se a multiplicação dos desencontros. Cena admirável, hilariante, que logo dá o tom do espetáculo. Tudo termina então dentro do circo, já em função e o show involuntário propiciado pelo vagabundo ao público, a rir em delírio, debaixo da lona abre-lhe uma acidentada carreira na troupe. A principiar pelos ensaios, onde o Chaplin diretor forja, por efeitos de indução, os dois planos da realidade e ficção contingentes. Dentro da tela, Carlitos, desajeitado, sem a motivação dos fatos, que lhe provocaram as atitudes e a correria doida, mantém-se totalmente inibido e desastrado, enquanto ensaia – ninguém da troupe, a começar pelo dono do circo, acha graça. Para a platéia do cinema, todavia, a situação é ininterruptamente cômica e todo mundo ri. Enfim, o morceau de bravure perto do final, quando Carlitos é obrigado a substituir o equilibrista da corda bamba, lá no alto, que era também o namorado de sua amada. Aqui, é uma sequência antológica quase ao nível insuperável do jôgo de rugby, com o frango, em Modem Times, ou a luta de boxe em City Lights. Chaplin, no alto da corda, pelas contingências desastradas com que preparou o seu début de equilibrista, é obrigado a fazer ainda mais do que o titular da função, inclusive um strip-tease até ficar em trajes menores.
E é isto Carlos e O Circo - um congraçamento de público: velhos e novos, intelectuais e o espectador simples. As bobinas de Chaplin correm junto com o tempo e a moda.

Correio da Manhã
11/07/1969

 
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