jlg
cinema

  rj  
Macunaíma

Antropofagia. Radicalismo cultural ou anticultura mesmo. Paganismo primitivo. Vide cena onde o "herói sem nenhum caráter", em lugar de socorrer o pequeno engraxate, lesado violentamente, acaba por roubá-lo e maltratá-lo ainda mais: "piedade matou minhas ninfas" - Ezra Pound. Segundo o diretor, Joaquim Pedro de Andrade (também responsável pelo roteiro e adaptação), "Macunaíma é a estória de um brasileiro que foi comido pelo Brasil". E mais: "os novos heróis, à procura da consciência coletiva, partem para devorar quem nos devora, mas, fracos ainda, são transformados em produto pelos órgãos de divulgação e consumidos". "A esquerda, enquanto é devorada pela direita, treina e se purifica pela autofagia, canibalismo dos fracos." "Mais numerosamente, enquanto isso, o Brasil devora os brasileiros." Certo; aí está o filme, tentando, em tom burlesco-grotesco, figurar a mixórdia da emulação, numa terra onde ser racionalista é ser louco. Paraíso da anarquia, apesar do rilhar do dentes-baionetas. O símbolo para o futuro de tudo isso está na excelente imagem final do filme, com aquêle verde, tão familiar hoje em dia, envolvido pelo encarnado do sangue, sobre as águas, depois que o herói pensou em ''brincar" com lara e terminou sendo devorado. Processo não é sinônimo nem consequência de ordem.
Escrito em 1928, por Mário de Andrade, Macunaíma é uma "rapsódia" romanesca baseada em alguns totems e em pesquisas antropológicas. Obra da maior importância em nossa literatura, mormente se levarmos em conta o corte diacrônico em nosso processo histórico, é, no entanto, estruturalmente discutível. Na área da prosa, são mais radicais e realizados os outros dois romances do outro Andrade, Oswald, João Miramar e Serafim Ponte Grande (dêste último, aguarda-se, com urgência a reedição a ser feita pela Difusão Européia do Livro). Mas, ao contrário de Mário, Joaquim Pedro não procurou a fita de vanguarda. Limitou-se ao espetáculo descritvo, apoiado numa boa fotografia, na faixa sonora que propicia elementos da mélange cultural (O Guarani, o fox, Sob Uma Cascata, uma versão RCA Victor, na voz de Chico Alves, ou, com o mesmo notável cantor, Paisagens de Minha Terra, de Lamartine Babo, o Arranha-Céu, de Orestes Barbosa e Sylvio Caldas, êste cantando, na ótima cena em que Ci e o herói rolam no amor sôbre o elevador, Roberto Carlos, Strauss, Ângela Maria etc.) e no dinamismo dos intérpretes, na sua versatilidade, como Paulo José; Grande Otelo ou Milton Gonçalves. Homens e mulheres euforicamente despidos ou fantasiados a serviço do carnaval antropofágico. Uma certa apatia rítmica impede que o filme ganhe o suporte do espetáculo que poderia obter, mas, mesmo assim, pela hilaridade e dinamismo interno (cênico) de várias passagens, mormente aquela de "brincar" entre homem e mulher, traduz saldo positivo e é das melhores coisas da última safra do nosso cinema.

Correio da Manhã
06/11/1969

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

As férias de M. Hulot
Jornal do Brasil 17/02/1957

Irgmar Bergman II
Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

Julien Duvivier
Jornal do Brasil 21/04/1957

Rua da esperança
Jornal do Brasil 05/05/1957

A trajetória de Aldrich
Jornal do Brasil 12/05/1957

Um ianque na Escócia / Rasputin / Trapézio / Alessandro Blasetti
Jornal do Brasil 16/06/1957

Ingmar Berman na comédia
Jornal do Brasil 30/06/1957

562 registros
 
|< <<   1  2  3   >> >|