Os dois filmes anteriores de Claude Lelouch - Um Homem, Uma Mulher (Un Homme, Une Femme) e Vivre Pour Vivre (Viver por Viver) – se não eram nada de especial, pelo menos atraiam por causa daquele esfôrço firmado no encantatório fotográfico. Histórias de amor, mescladas com tomadas de documentários, sendo que essa sofisticação visual já encontra boa acolhida de público.
Agora, La Vie, L' Amour, La Mort (A Vida, O Amor, A Morte) representa uma guinada inócua e pretensiosa. Abandonado o estetiscismo plástico, apesar de ser ainda a fita em côres, estamos diante de uma espécie de nôvo André Cayatte, batizando pela patisserie fotográfica de Lelouch. Discursos, discursos, numa modalidade de cinema ultra-acadêmica hoje em dia e que fazia o êxito em festivais no decênio de 1950.
A pena de morte é uma aberração brutal, uma chaga social. Ninguém ignora também que tôda a conceituação moderna, na área do Direito Penal, consagra a idéia de pena, não mais como castigo (tal como eram as máximas bíblicas, tipo "quem com o ferro fere, com o ferro será ferido". ou a lei de Talião, da punição prívatista, do "ôlho por ôlho, dente por dente"), mas, sim, como cura.
Desde as teorias patológicas de Lombroso, passando à fundamentação social de Ferri e, depois, as escolas ecléticas, o Direto Penal partiu para isso, como concepção mansa e pacífica: a pena, se aplicada pelo Estado, tem natureza social, e, por isso mesmo, é cura - ninguém é mau porque quer. Todavia a simples justiça, a boa impostação ética, como no caso de Lelouch, não salva, nem garante, isoladamente, o êxito da obra de arte. A Vida, O Amor, A Morte é uma obra estruturalmente anódina, apesar de um ou outro momento dotado de maior interêsse ou vitalidade. No tema, a história do cinema registra outras criações bem mais ousadas e instigantes. Basta lembrar, há cêrca de dez anos o que Robert Wise fêz com I Want to live (Quero Viver), protagonizada por Susan Hayward. Aqui, remete-nos Lelouch a um recuo no tempo, com a toada de um subcaso Dreyfus, em matéria de angulação do assunto.
Apresentada durante o II Festival Internacional do Filme, essa realização já havia decepcionado boa parte do público e da crítica. Salvam-se, com galas, as interpretações de Amidou e Caroline Cellien, principalmente o primeiro, que acabou ganhando a sua gaivota. Filme discursivo, em última instância, pode ser visto como protesto e passatempo.
Correio da Manhã
22/10/1969