The Appointment quase resulta em ser uma realização inútil dento da filmografia de Sidney Lumet. Filmado in loco, na Itália, aborda as peripécias passionais entre um advogado e um modêlo. Êle, Omar Sharif, até a hora do casamento, além de canastrão, é amoroso, maricas, submisso; ela, Anouk Aimée, além de boa atriz, classuda e envelhecida. Depois das bodas, mudam-se as bolas do jôgo e Lumet enfrenta um tema cujo interêsse catártico só pode vigorar ao nível de telenovelas. Sharif passa o filme inteiro, preocupado em saber se a mulher era ou não call-girl. Numa sociedade industrial, com o fácil acesso da mulher ao trabalho - e, em decorrência, a sua liberdade econômica – o problema só deve existir como assunto museológico. Jamais no back-ground de Roma século XX. Mas faz dé conta que existe; resultado: Anouk, que já era neurótica, de tanto ser chateada por Sharif (que, na medida crescente da jalousie vai ficando vermelho, com cara de chôro), acaba se suicidando. E o advogado leva o castigo da casa de antiguidades, onde era o agenciamento de encontros da call-girl, recebe um telefonema da dona (Lotte Lenya, a mesma de L'Opera. de Quatre Sous, e ex-grande intérprete das canções de Kurt Weil e Brecht ou Georg Kaiser) e vem a concluir que a mulher era inocente. Pano rápido. A lição de moral era desnecessária.
Só um milagre poderia assegurar maior interesse para filme dessa natureza, governado por Lumet em tom flou, semipoético (e, aí, lembramos um pouco um dos seus primeiros filmes, Stage Strouck). Em deter minados momentos, o diretor ainda consegue extrair algo de transcendente, mas são sequências esparsas. O ritmo da fita, sem ser, a rigor, desagradável, instiga muito pouco. Às vêzes, o back-ground da ópera dá a impressão de que se desejou sublinhar um drama fora do tempo, mas o tratamento psicológico não rima com isso.
A fotografia, razoavelmente caprichada, também contribui para reforçar a tentativa de nostalgia. Algumas tomadas de Anouk são ótimas, pois é uma das atrizes que tem mais o que dizer apenas mediante a expressão facial. Finalmente, registrar que, além de Lotte Lenya, também como presença do passado, emerge rapidamente Paola Barbara, que, antes e durante a guerra, era uma das principais atrizes do cinema italiano, frequentadora de folhetins históricos, entre êstes, A Cortesã.
Correio da Manhã
18/10/1969