O gêneros de mistério policial - daqueles de apenas no final da história, saber-se quem é o criminoso - ainda hoje é, pelo menos, um passatempo literário adotado em larga escala, desde o estilo mais romanceado de um Edgar Wallace, passando pelo clima de Agatha Christie, os provérbios de Charlie Chan; o método de W. S. Van Dine, os croquis de Ellery Queen ou a advocacia, de Perry Mason, de Erle Stanley Gardner. O cinema mormente no decênio de 30 e 40, explorava bastante o vilão, reviveu os heróis, inclusive em seriados. Depois, abriu-se o hiato, com raras incursões, boa parte delas devido ao gênio de Hitchcock, explorando um dos atalhos evidentes para o thriller (o gênero realmente por excelência).
Agora, na atual década, parece que as incursões no assunto ensaiam um retôrno. O inspetor Maigret, de Simenon, por exemplo, já tem estado presente. Jovens, Malvados e Selvagens (The Young, the Evil and the Savage) - título que, aliás; no original e na versão literária em português, nada tem a ver com os acontecimentos narrados - se consiste numa tentativa isolada, provinda dos realizadores italianos, com alguns atôres americanos de permeio. Tudo é mistério, seguindo o espírito de uma ingenuidade linear, despojada de recursos insólitos ou apelos à psicanalise. Não fôsse a tela panorâmica, além do nudismo, sempre bem recebido, de algumas vitimas do criminoso incansável, seria válida a impressão de se tratar de uma reprise despretenciosa de fita rodada, no mínimo, há trinta anos.
Internato granfino, em período de férias. Poucas alunas, a maioria delas, como é natural, saracoteando em tôrno das perspectivas do sexo. Junto com elas, a diretora de tendências lésbicas, desvendadas logo num relance inicial, duas professôras com função de monitoras, um professor galante de pólo e hipismo, aparentemente amante e apaixonado por uma das môças, um outro, de pesca submarina, mais um jardineiro estranho e voyeur, um zelador silencioso e um velhote colecionador de insetos. Os crimes começam a se suceder com velocidade inusitada e os corpos vão surgindo, ora no banheiro, ora debaixo do chuveiro, ou no porão das malas, ora no viveiro de pássaros e insetos, ou pelas matas. Chega, então, Michael Rennie, como detetive, para deslindar o affaire e fazer as interrogações de praxe. Quem é o assassino?
A primeira cena, desenrolada antes e em paralelo aos créditos dá a impressão de que a coisa poderia escorrer melhor em têrmos cinematográficos. Logo depois, tudo imerge no lugar comum, com uma tomada ou outra mais rebuscada. A côr não está boa. De qualquer modo serve como diversão aos fanáticos ou saudosistas do gênero.
Correio da Manhã
07/06/1969