Ainda a maior fase da carreira de Ingmar Bergman só começou recentemente, pelo menos a partir de Persona. A seguir, vem outra obra inesquecível (que continua em cartaz, no Paissandu) - A Hora do Lôbo - o seu maior filme. E, daqui há pouco, veremos - Vergonha (Skammen), na opinião de alguns críticos, ainda superior às duas fitas citadas. Novamente, uma ilha e, encabeçando o elenco, a dupla de A Hora do Lôbo, Liv Ullman e Max Von Sidow, Vergonha desenrola~se supostamente no ano de 1971, quando, fugindo das proximidades de uma guerra civil, chega à ilha um casal de músicos, primeiros violinistas de uma orquestra desfeita. Passam a viver na casinha herdada pelo marido, mas, apesar do refúgio, a guerra, cada vez mais, acerca-se dêles. Não têm partido na luta e só desejam sobreviver. Dentro de tal contexto, Bergman taz uma experiência tida como extremamente ousada, e, inclusive, segundo consta, influenciado pelos métodos de criar, lançados pelos cineastas mais novos. Vergonha já recebeu três prêmios da associação de Críticos Cinematográficos de Nova York, que reúne representantes das mais importantes revistas norte-americanas. Nesta realização, de acôrdo com os comentários já feitos, o diretor sueco abandona o clima onírico e a reiteração simbólica, tão comuns em sua obra. Da mesma maneira, elimina o acompanhamento musical, enquanto passa do rigor de construção para uma espécie de espontaneísmo eventual, calcado inclusive na improvisação dos diálogos feita pelos atôres. Bergman, a propósito de Vergonha, diz que não tem pontos de vista políticos, escandalizando tranquila e heideggerianamente muito "desalienados" da praça. Quer, através da fita, mostrar como é simples a humilhação de sêres humanos, sem que nada possa ser feito para evitar isso. Daí, procurou infiltrar-se noutra espécie de magia - a magia do mêdo.
Produção argentina, dirigida por Julio Porter, A Casa de Madame Lulu é uma fita que lembra modalidades de espetáculo descompromissado, típicas do primeiro quarto do século. Aliás, pouco mais, pouco menos, é onde se desenrolam as ações modêlo vaudeville, comandadas pela incansável Libertad Leblanc, que, aliás, não se despe nesta fita. O bordel, sob a perspectiva da comédia musical, é sempre isto: um local aprazível, com as môças irradiando simpatia, uma proprietária maternal, clientes engraçados e importantes. Cançonetas, batidas policiais e o happyending concretizado nas bôdas da rainha do lugar com um jornalista, êmulo de Marx. Enfim, distração comum.
Correio da Manhã
16/10/1969