Está em exibição um dos filmes mais discutidos de Joseph Losey, Cerimônia Secreta (Secret Cerimony), onde Mia Farrow (principalmente esta) e Elizabeth Taylor têm duas estupendas atuações. Além disso, o extraordinário requinte dos décors (em côres) consumando um delirante barroquismo visual, típico do diretor em inúmeras outras realizações. Formalismo, decadentismo esteticismo - muitos ismos da crítica sociológica ou estilistica podem ser aplicados a êle, mas, isoladamente, não resolverão o problema de definir com simploriedade uma das mais complexas inteligências cinematográficas.
Talvez um dos que melhor tenham conseguido abordar o seu universo seja o crítico Andrew Sarris. Vamos, aqui, apresentar alguns flashes da sua opinião re Lorey:
"Irônicamente, a personalidade de Losey se projeta com mais vigor e clareza em obras relativamente desprezadas, tais como Time Without Pity, Chance Meeting, The Concrete Jungle, King and Country e Modesty Blaise. Assim como muitos cineastas, parece mais eficiente quando transcende as convenções do que quando as evita.
Os filmes de gênero conferem-lhe o distanciamento de que precisa a fim de escrever expressivamente na tela. Em contraposição, as fitas sôbre a Vida, o Tempo e o Mundo dão a impressão de torná-lo, até certo ponto, reprimido, rotineiro e impessoal".
"Os melhores intérpretes de Losey são quase invariavelmente masculinos - Van Heflin, em The Prowler, Dirk Bogarde, em The Sleeping Tiger, The Servant, King and Country, Modesty Blaise e Accident , Stanley Baker em Chance Meeting, The Concret Jungle, Eva e Accident, Michael Redgrave e Leo McKern em Time Without Pity, Patrick McGee, em The Concrete Jungle, Oskar Werner, em Chance Meeting, James Fox, em The Servent, Tom Courtenay, em King and Country, Terence Stamp, em Modest Blaise. Na sua oeuvre, existem retratos femininos suficientemente apreciáveis: Gail Russel, em The Lawlesss, Evelyn Keyes, em The Prowler, Sarah Miles e Wendy Craig, em The Servent, Viveca Lindfords, em These are the Damned, e Vivian Merchant, em Accident, vêm imediatamente à lembrança. Porém, o papel feminino no mundo loseiano é estritamente subordinado, por causa da histeria histriônica de seus atores. Os homens não podem, simplesmente, lutar contra as suas vidas e as instituições sociais e caem fragmentados em consequências bastantes líricas. Enquanto isso, as mulheres permanecem para apanhar os pedaços. Estas lutam em de corrência de sua perícia em se comprometer com a realidade, uma habilidade a qual Losey admira sinceramente. Intelizmente, os melhores papéis são os menos estáveis. Daí, os grandes momentos de dissolução psíquica, com domínio de cena, são comumente negados às suas atrizes". (Agora, Cerimônia Secreta é uma exasperante exceção - n.t.).
"Losey tem sido criticado pela precisão e fluidez de seu estilo, mas é através de seus excessos que, com maior êxito, projeta um senso de humor revitalizante. Quando Stanley Baker é abandonado na porta por Jeanne Moreau, em Eva, o salto da câmara para o alto, em sua angulação, torna a humilhação deliciosamente engraçada mediante um recurso incomum. O diretor está brincando com os seus próprios prodígios. Pelo contrário, Modesty Blaise se consiste em empreendimento mais sério do que aparenta; devido exatamente ao vigor de sua frivolidade. Losey, aí, está brincando com assuntos concernentes às relações entre homens e mulheres, relações estas que o afetam profundamente. Existe também em seus filmes, vez por outra, aquêle espasmo psíquico, aquêle gesto fútil, feito por um personagem, a fim de registrar um protesto pessoal contra a injustiça cósmica. Em seu universo, tanto sexo como política permanecem desarticulados e o seu estilo é barroco e expressionista num sentido muito excitante. Com a desintegração do ser masculino, o centro do Yeats não pode se suster, e a anarquia baixa sôbre o mundó". (William Buttler Yeats foi o maior poeta simbolista em língua inglêsa - n.t.)
Correio da Manhã
01/10/1969