O gênero gaugster é, sem dúvida, um filão sempre válido para ser reexplorado, mormente com a garantia do aspecto recreativo que cerque uma produção cuidada. O cinema brasileiro já conseguiu alguns resultados bem razoáveis na área e só terá que ir mais para a frente com o desenvolvimento industrial.
Agora é a vez de Jece Valadão voltar ao assunto, como diretor & protagonista de O Matador Profissional. A história, de um modo geral, já foi vista centenas de vêzes. Mas isto, constitui fator secundário. Restaria aquilatar o tratamento da linguagem, a formulação do comportamento ou uma e outra inovação, sempre possíveis no cinema, a arte das surpresas.
O Matador Profissional se consiste numa realização algo caprichada, com uma certa contenção e mesmo modernação do diretor, que preferiu tentar o espetáculo escorreito a se arriscar em vôos altos que podem fazer cair no bossismo desbragado, uma das pragas do cinema nacional. Um homem só, silencioso, eficiente em seu métiet (matar por dinheiro), que enfrenta todo o aparelho que o contratou e tenta, depois, traí-lo. Desde, pelo menos Humphrey Bogart, o tipo e as situações formaram a matriz para inúmeras outras variações dentro do leitmotiv. Acontece é que, em paralelo, a compreensão da liberdade de criar no cinema evoluiu a ponto de permitir que, tanto êsse assunto, como outros, sejam tratados sem a incômoda efígie de ''o crime não compensa". Foi assim, então, que, a partir do nôvo status, Valadão emergiu para focalizar um entrecho desenrolado exclusivamente no mundo marginal, sem a presença da polícia, quando tudo gira em tôrno da luta de um homem contra a organização clandestina.
O ritmo da fita é algo sincopado, com a procura do cineasta de forjar, em determinadas passagens, alguns efeitos de montagem. Ao mesmo tempo, é auxiliado pela fotografia de Hélio Silva e prejudicado por uma faixa sonora demasiado barulhenta, talvez mal sincronizada. Existem também algumas tentativas de angulações arrojadas, principalmente numa festa e ritual psicodélico, entretido por figuras do bas-fond - culto à droga que leva ao êxtase gratuito.
No fim, o crime vai compensar: para o herói que liquida os inimigos e para a mulher que o traiu e delatou. Sem ser nada de especial, a fita agrada, com uma direção razoável. O grande êrro do argumento não reside em o matador escapar vivo e vitorioso no meio de tantos inimigos e, sim, em não ter morrido com a quantidade de uísque nacional que foi ingerindo de cena em cena.
Correio da Manhã
20/08/1969