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A garota da motocicleta

Antes de The Girl on a Motorcycle, Jack Cardiff - que era um excelente fotógrafo, técnico escolhido para as grandes produções em cores - já havia dirigido alguns filmes: Sons and Lovers (adaptação do conhecido romance de D. H. Lawrence), My Geisha, The Lion, The Long Ships e The Liquidator. Agora, mais do que nunca, procurou adensar a sua vocação de camera-man, com êste filme protagonizado por Marianne Faithful e Alain Delon.
E é exatamente pelo desejo de, entre outras coisas, fornecer um show visual, com· todos os efeitos possíveis através das lentes, que Cardiff, nisto e na concentração exasperada do amor, se aproxima de Claude Lelouch, por exemplo; livre, felizmente, da , solução imoral estampada em Vivre Pour Vivre. Assim, ao tocante a efeitos plásticos e cromáticos, há que ver, mormente, a sequência onírica inicial, o sonho de Rebecca, onde, em ritmo trepidante, o diretor consegue realizar algumas proezas interessantes na base no negativo, collage e sobre-impressão.
Mas não é só isto. Cardiff também brinca com o tempo, estraçalha a cronologia e a lógica lugartempo - fato que, desde Alain Resnais e adjarências, virou quase lugar-comum. O leitmotlv da fita se consiste no monólogo interior da protagonista, no momento em que deixa o marido, dormindo na cama, veste a roupa colante de couro negro (ponto de convergência erótica) e vai, dirigindo a motocicleta, encontrar-se com o amante. A partir de então, o carrossel da memória, o embaralhamento da linearidade, sendo preciso, no entanto, frisar que esta última permanece e não fica superada como acontece nas obras mais radicais, modêlo Marienbad.
O espetáculo, depois da ameaça de uma certa monotonia na primeira meia-hora, toma pé e vai em nível razoável até o desfecho. E sempre cunhado pela angulação erótica. A roupa colante de Marianne tem, de alto a baixo, a trilha do fecho éclair, já bem prático para Delon, que se limita a fazer a argola deslizar com a extremidade de um dos dedos. O corpo da môça é agradável, mas os seus pés são grandes e tortos. Em determinada cena, ela, nua, despetala uma rosa vermelha sob o torso de Alain, que ri algo cinicamente. Afinal, entre outras coisas, êle é leitor de Swendeborg e procura, numa aula informal, que os seus alunos consigam uma definição concreta de amor - palavra que esconde os sentimentos mais variados. O marido dela, "interpretado por Roger Mutton, é o sujeito bom, pacato e, segundo o realismo da moral pagã, incapaz, portanto, de excitar a môça. Delon é frio, erótico e decidido. Numa outra sequência bem realizada, êle invade o quarto vermelho de Rebecca, no hotel dos Alpes, e passa a possuí-la como num sonho, cuja imagem final é o vermelho absoluto da tela.
A fita baseia-se no romance de André Pierre de Mandiargues, La Motorcyclette, sendo roteiro de Ronald Duncan. Cardiff procurou evitar ao máximo o aspecto literário da trama, optando pela intensificação visual. Se o resultado não foi importante, nem expressivo, resta um filme que pode ser visto com agrado e, até mesmo, um certo transe.

Correio da Manhã
29/08/1969

 
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