The Penthouse, extraído da peça The Meter Man, de C. Scott Forbes, dirigido por Peter Collinson, do qual, há pouco, foi aqui exibida outra fita, Up the Junction, acrescenta muito pouco ou quase nada na linha do cine-sadismo. Sexo, suspense, erotismo e violência são evidentemente fatôres ontológicos do espetáculo fílmico, não tomados em abstrato, como uma atitude antimoralista, mas pela especificidade de um dinamismo motovisual que acarretam a partir de dada modalidade de linguagem (a cinematográfica) mais poderosa materialmente do que as outras, pertinentes às artes tradicionais ou à mera literatura. Mas a utilização de tais fatôres prescreve, evidentemente, a aferição de várias coisas, como ritmo, catarse, convincência das situações dentro da mesma forma de linguagem que é aquela, no dizer de Merleau-Ponty, única em condições de propiciar o comportamento do homem, ou seja, o estar do indivíduo.
The Penthouse, todavia, pouco mostra a fim de pungir, comover, entusiasmar. A gratuidade do seu entrecho, enfocada nos têrmos anedóticos, não reverte a nada que se aproxime de kafkianismo, absurdo, crítica social ou o espetáculo tout court. Ela também não inova; logo, então, reverte sôbre si mesma. Poder-se-ia, talvez, numa devassa cansativa, vislumbrar o pepassar de uma denúncia da miserabilidade humana submetida a determinadas condições de vida. O bom burguês que lá está, no penthouse solitário, interpretado por Terence Morgan, a fim de ter os encontros com a vendeuse (Suzy Kendall), sua amante, diante da conjuntura insólita, mostra-se, não só um fraco ou um covarde, mas um ser essencialmente mesquinho. Pois, no julgamento geral, proporcionado pelo decorrer das ações, ninguém será mais culpado do que êle: nem a môça (que além de ser vítima de um casamento ilusório, acenado pelo amante, é o alvo essencial dos dois sádicos), nem os três loucos que invadem o apartamento, cuja atitude, no fundo, no tocante a provocar a ruptura das relações amorosas do par, chega até, a longo prazo, a ser profilática.
As ações em si, não geram suspense. O cinema americano já deve ter realizado uma centena de fitas superiores, sem se pretenderem tão "ousadas". Salvam-se da debacle geral, e até da monotonia contingente, os cinco atôres e algum esfôrço fotográfico de Arthur Lavis. Enfim, a decepção afunda a nível suficiente de criar a despreocupação quanto à possibilidade de ter a Censura perturbado o nosso conhecimento visual de tôda as iniciativas tomadas pelos sádicos.
Correio da Manhã
23/05/1969