Mais uma fita de Dino Risi, com Vittorio Gassman. Novamente o diretor cai de nível, já estando longe do êxito alcançado com II Sorpasso, onde não só o ator estava excelente, como o dinamismo da comunicabilidade da realização era imenso. II Profeta nem sequer chega a mostrar o rendimento de espetáculo, como no caso de o Tigre e a Gatinha, onde ainda existia maior interêsse no desenvolvimento da trama, onde também uma coisa tão saborosa como Ann Margret surgia muito melhor do que agora. Aliás, em matéria de desfechar erotismo, Ann ainda não superou a sua aparição metálica, supersensual, proporcionada por George Sidney, em Amor a Tôda Velocidade (Love in Las Vegas).
A história, aqui, é velha e saturada. Gassman tornou-se misantropo, voltando ao primitivismo no alto de uma montanha. Tudo isso porque não resistiu ao mundo urbano, de barulho, engarrafamentos, rotina ensurdecedora no trabalho, mulher chata e reivindicativa, além da competição obrigatória a todo instante - esta última, na verdade, uma modalidade de alienação da qual poucos escapam. Mas o profeta não resiste, nem pode, quando é convocado de volta à cidade, principalmente devido ao impôsto de renda. Mergulha então no quiproquó, primeiro entre os hippies, depois junto à alta sociedade e o universo das promoções e publicidade. A mensagem acaba sendo pessimista para os que queiram seguir o seu exemplo: o mundo do progresso é um inferno irresistível.
Vittorio Gassman, em comparação com II Sorpasso, piora de filme para filme; o dinamismo histriônico cede para um caricaturismo estático. Quanto a Ann Margret, pelo visto, deve retornar urgentemente a Hollywood a fim de ser melhor aproveitada.

O Trapalhão (The Troublemaker)

Êste filme amadorístico teve o dom de conseguir repetir o fenômeno de Vidas Provisórias no cine Paissandu: ao acabar a sessão, só havia três espectadores na sala. É incrível como várias publicações americanas e francesas viram o que elogiar em algo tão primário e sem imaginação. Estamos nos referindo a órgãos como The New Yorker, o New York Times ou Combat e Paris Presse.
Ninguém, até agora, conseguiu ver, aqui, nem o cinismo, nem o superdivertimento, nem "a loucura agressiva de Jerry Lewis e dos Irmãos Marx". De início, trata-se de uma fita de amador. Porém, o amadorismo, embora seja uma espécie de pecado original, frente ao cinema em geral, como forma de criação industrial, não surge, aí, como o êrro essencial. A começar por Kubrick (Killer's Kiss), muitas realizações amadoras, no sentido da carência de um maior e/ou melhor suporte material, conseguem atingir respeitável nível expressivo, apesar do handicap técnico. The Troublemaker, no entanto, sequer pode ser classificada como uma produção B (de onde saíram tantos cineastas de proa nos Estados Unidos, mormente no decênio dos 40 e dos 50): lembra em muitos aquêles filmes de burlesque ou mesmo cochons, de um quarto de século atrás, onde o paroxismo do desleixo técnico ao menos se justificava como pretexto de ser entreato anedótico para as cenas de palco, de strip-trase ou nudismo. Nada se salva numa fita que adormece o público. O diretor Theodore J. Flicker fêz depois uma obra interessante, como The President's Analyst e, por isso mesmo, despertou o interêsse retrospectivo por êste The Troublemaker, onde também nenhum dos atôres (Tom Aldredge, Joan Darling ou o próprio cineasta) mostra o que sabe.

O Código é: Tigre (Le Tigre Aime la Chair Fraiche)

Apesar de já ter saído de cartaz, vale frisar que se trata do pior filme de Claude Chabrol. Sequer presente o requinte e a sofisticação, habituais nêle, que é um dos pioneiros da nouvelle vague. Uma fita secundária e monótona de espionagem, quando Roger Hanin, como espião, é um autêntico tigre de papel. E os sôcos, mal sincronizados, lembram as produções primitivas da nossa Atlântida.

Correio da Manhã
16/05/1969