O western italiano tornou-se uma espécie de praga cinematográfica, invadindo as telas semanalmente. Falamos em praga, dada a quantidade indiscriminada de filmes, o desleixo da maioria das realizações, a falta de ambiência autêntica (integração homem x paisagem, tradição, etc. & etc.), a inverossimilidade ao nível infantil de boa parte das produções. Até um paradoxo serve para denunciar a inapetência: os italianos rarissimamente tentam o western psicológico (que seria o western impuro, mas cuja consecução exige o feijão-com-arroz bem absorvido pela experiência, ou seja, as constantes do western clássico, luta do bem e do mal etc. & etc.): atiram-se para o novelesco ou à simples movimentação de cavalgadas, murros, tiros, duelos. Daí o inferno de dólares furados, Djangos e Ringos. Enfim, procuram dar uma viabilidade epidérmica aos entrechos, mediante, de um lado, a contratação de atores americanos ou outros que falem o idioma inglês, e, de outro, a dublagem dos intérpretes de várias nacionalidades que pululam nessas realizações. Quanto aos diretores, são geralmente desconhecidos ou, às vêzes, pseudônimos de cineastas que não desejam comprometer sua filmografia existente ou futura.
Mas tôda regra tem exceção - alguns westerns italianos podem ser razoáveis ou - quem sabe? - bons. De Uomo a Uomo, embora não seja brilhante, enquadra-se na categoria das exceções. Trata-se de uma produção mais caprichada, com dois protagonistas de cartaz, um dêles, apesar de mau ator, hoje em dia em plena voga: John Phillip Law, aqui, nesta fita, arregalando os olhos a cada momento; o outro, indubitavelmente um bom intérprete, Lee Van Cleef.
O tema é dos mais comuns dentro do gênero: a vingança implacável, no caso, movendo os personagens vividos pelos dois citados protagonistas. Bill, quando menino, logo na primeira sequência (e também a melhor do filme, com o jôgo de close-ups e de detalhes, além do emprêgo delirante da violência): vê o seu pai ser fuzilado pelos bandidos que, a seguir, fuzilam a mãe e a irmã, após haverem-nas estuprado. Quando êles saem, após incendiarem o lar do garôto, chega outro elemento do bando, atrasado, Ryan, que o salva das chamas. Quinze anos depois, seus caminhos irão cruzar-se no objetivo da vingança: Bill, por causa da família destruída; Ryan, porque foi traído pelos companheiros de saque. A partir de então, a movimentação, os tiroteios, realizados com um mínimo de apuro, além da pretensão de alguns enquadramentos arrojados, mantêm o interêsse razoavelmente desperto. A Morte Anda a Cavalo, apesar do roteiro e do argumento destituídos de maior consistência, torna-se diversão aceitável.
Correio da Manhã
30/04/1969