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O Bosque das Ilusões Perdidas

O romance de Alain-Fournier, Les Grand Meaulnes - de evidente fixação autobiográflca - foi dos livros mais lidos até cerca de uns vinte anos atrás. Hoje, talvez só mesmo o cinema pudesse conferir ao entrecho do livro uma comunicação maciça. Foi o que intentou Jean-Gabriel Albicoco, nesta filmagem onde impera todo o carinho na reconstituição de uma época, de há quase um século, e o desejo, aliás, concretizado, de propiciar aquele halo de nostalgia e melancolia contingentes de um professor de província, na Sologne.
Timidez, impotência de ação, autoprojeção no dinamismo vivencial de um amigo, em suma, o romantismo da vida interior - trata-se de assunto eternamente válido, mas que exige um mínimo de maturidade em sua expressão. Tanto na direção, como na adaptação da novela, feita juntamente com Isabelle Rivière, o cineasta, aqui, deixou praticamente de lado o canteiro de experiências psicanalísticas e partiu para a visualização, ou seja, a impregnação de melancolia & nostalgia, através da imagem, das tonalidades evocativas. Essa opção, aliás, é a mesma de grandes diretores em filmes afins, como o Renoir, de Une Partie de Campagne, ou o Truffaut, de Jules et Jim. Apenas, com relação aos dois citados, que estávamos diante de duas obras-marco do cinema, enquanto Le Grand Meaulnes não chega a tanto.
Mesmo assim, um espetáculo de alto coturno, cujo delírio impressionista desfechado pela fotografia em cores dá idéia de um prolongamento à outrance, cerca de meio século depois, das experiências visuais da avant-garde francesa, aquela de um Marcel L'Herbier, de um Dmitri Kirsanoff, em Ménilmontant, ou mesmo Epstein. Essa impressão imediata, de estarem os acessórios permanentemente sobrepujando o principal dentro de uma obra, e que, amiúde, leva-a à classificação de decadentismo, não deixa de ser algo fascinante, quando bem realizado. E, quando se assiste, em toada encantatória, ao Bosque das llusões Perdidas, pode-se dizer: "Viva o decadentismo, salve o esteticismo." Não é mals, com relação a Jean-Gabriel Albicoco, do que repisar o já dito a respeito de seu filme anterior, La Fille aux Yeux D'Or, embora êste fosse mais ousado e mais ritualístico em sua glorificação do lesbianismo. Aqui, estamos novamente diante do show plástico-cinético, onde o delírio de luminosidade e de distorção cromática chega quase à abstracão, ao informal, em que a Câmara, instável, trêmula, salta, ubíqua dentro dos interiores e exteriores. E a densidade que o drama obtém é resultado da imagem pura, ficando o som apenas como um ligeiro suporte anedótico. Antigamente dizia-se que isso era cinema puro. Hoje, não o é obrigatoriamente. Mas fica o espetáculo e o sentimento.

Correio da Manhã
21/05/1969

 
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