Um Golpe das Arábias (Don't Raise the Bridge, Lower the River) consegue o milagre de ser um filme monótono de Jerry Lewis. Nada daqueles espasmos de riso na platéía (apenas provoca uma risadinha ou outra, durante quase duas horas de projeção), nada daquele dinamismo contingente que, na tela, como ator, ou atrás da câmara, como diretor, transformou Jerry Lewis no maior comediante do cinema americano na atualidade e com apenas um rival em todo o cinema, Jacques Tati.
Dirigindo os seus últimos filmes ou dirigido por um expert, como Tashlin, suas fitas eram, com altos e baixos, infalíveis no objetivo básico da hilaridade. Estão aí, atestando a eficiência de Jerry, no ponto mais alto, obras tão formidáveis, como O Professor Aloprado (The Nutty Professor), O Terror das Mulheres (The Ladies Man) ou O Bagunceiro Arrumadinho (The Disorderly Orderly), êste último sob a responsabilidade de Frank Tashlin, também autor do excelente Bancando a Ama-Sêca (Rock-a-Bye Baby) recentemente reprisado. E talvez, por isso mesmo, seja a direção de Um Golpe das Arábias a principal responsável pelo fracasso chocante. Se o roteiro de Max Wilk, adaptação de sua própria novela, já não oferecia maiores possibilidades latentes, direção de Jerry Paris (quase o nome de Jerry Lewis, quase uma blasfêmia!) é uma inocuidade à tôda prova. Não há brilho, não há ritmo - um ou outro solo de Jerry, na base da careta, empurra o espetáculo. Jerry Paris dirigia, na TV, os programas em série de Dick Van Dyke e, de lá, veio para comandar essa produção de Walter Shenson (também produtor dos Beatles), rodada na Inglaterra. Em tudo e por tudo estamos diante do blefe colorido, onde só se salvam os atôres, todos bons e mal aproveitados: além de Jerry, a boa figura da desconhecida Jacqueline Pearce, Terry Thomas e Bernard Cribbins.
Correio da Manhã
29/03/1969