Aventureiro do Pacífico (Donavan’s Reef) é um dos melhores filmes da última fase do veterano John Ford, agora em re prise. A saudável grossura do famoso “humor fordiano” sustentada por um elenco respeitável: John Wayne, Lee Marvin, Dorothy Lamour, César Romero, Elizabeth Allen, Jack Warden, agitando-se numa boa cinegrafia em cores. Algumas cenas de pileque – confronto Wayne X Marvin (que, na época, ainda não possuia o cartaz atual) – são ótimas e típicas do estilo do criador de The Searchers, Stagecoach, The Informer, My Darling Clementine.
Depois de cumprida a clássica curva da maturidade, Ford permaneceu demonstrando que o “saber ver” um plano é um algo mais que a mera razão ou a simples experiência cultural nem sempre proporcionam. Ao mesmo tempo, grande diretor de atores, ressuscitou, em Donovan’s Reef, algumas figuras que pareciam já apagadas no esquecimento: é o caso de Cesar Romero, triangulador de comedias românticas dos decênios de 30 e 40, Dorothy Lamour, a antiga rainha do sarong ou Dick Forah (primeira versao falada de A Mão da Múmia e mocinho de inúmeros seriados dos thirties), aqui numa aparição incisiva, dinâmica. Quanto a Lee Marvin, em papel bizarro, rende o máximo sob a direção fordiana. John Wayne dispensa comentários nestas fitas – é quase um prolongamento natural, concreto, do que está na cabeça do cineasta.
Teorema novamente em cartaz para mostrar que o público sabe responder àqueles que, em seu nome, falam de moral e outros assuntos culturalmente inócuos. Quem ainda não viu um dos maiores filmes da década passada, terá oportunidade de assistí-lo no circuito do Plaza. Aliás, no início do próximo mês. Pasolini e Maria Callas estarão em Mar del Plata, na apresentação de Medeia em festival. É o ultimo filme de Pier Paolo, com a maior diva e primadona de nossa época. Callas, há cerca de 20 anos, quando então era bastante gorda e pouco famosa, esteve no Brasil e cantou três operas no Municipal, em duas delas, alucinando a platéia. Estreou na Norma, de Bellini, e estarreceu, com seus agudos violentíssimos arrasando orquestra, coro, palmas, claque e tudo mais; na Tosca, fracassou, porque ainda não possuia centro de voz para um papel típico de soprano lírico; na Traviata, no entanto, fez até esquecer a Tebaldi, no mesmo ano, ao emitir vocalisees tremendous e exibindo o fôlego de cantar o famoso Ah Fors è Lui sentada. Agora, depois da glória e de uma fatia da vida de Onassis, tem Pasolini na biografia e uma Medeia (talvez antológica) no cinema.
Correio da Manhã
21/02/1970