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A grande testemunha

A Grande Testemunha (Au Hasard Balthazar) é um dos filmes mais elogiados e premiados de Robert Bresson. No cômputo entre as listas de "dez mais" de cerca de 70 fitas, realizado pela revista Cahiers du Cinéma, foi considerado o maior filme estreado em Paris, no ano de 1967, cortando, inclusive, o pentacampeonato de Godard, que estava à vista. Sua bagagem de premios é a seguinte: Prêmio Mélies, Menção Especial no Festival de Veneza, Prêmio Mestre, no mesmo Festival, Prêmio OCIC, Prêmio San Giorgio e Prêmio do Festival Internacional do Panamá.
Balthazar é um burro, o principal personagem. A sua via crucis faculta ao roteiro retalhar trechos da vida dos sêres humanos que o rodeiam, acariciam-no ou maltratam-no. Tudo vazado num ritmo lento; sincopado, que se condiciona ao esmiuçar de determinados detalhes do comportamento humano, lentidão esta, no entanto, que, para o nosso estar, nem sempre é funcional, cai na monotonia. Muitos críticos respeitáveis do mundo inteiro vêem, em Bresson, um dos maiores, senão o maior, cineasta da atualidade. É uma questão de perspectiva. Não sentimos assim, nem no seu filme ainda talvez mais badalado do que
Balthazar, Pickpocket. O que se poderá constatar a respeito dos dois citados e, mais, de Mouchete ou Un Condamné à Mort S'Est Echapé, é que, indiscutivelmente, ele se transformou num dos grandes realistas do cinema. Realismo, aqui, nada tendo a ver com a mera audácia temática, a crueza anedótica de cenas ou pintura de costumes. Trata-se da própria técnica de formular e perquirir a conduta do homem que está em jôgo, em seqüência que, na verdade, dão a impressão de refletir fatias da vida em bruto. Atôres precisos, eficientes no estar diante das câmaras, ultrantiteatrais – é só ver o que êle fâz do rendimento da godardiana Anne Wiazenski. Em paralelo a sua cinegrafia é despojada de efeitos plásticos imediatos, do racionalismo de composição, enfim do brilhô de qualquer modalidade de suporte fotográfico. O escuro em suas fitas é escuro mesmo: mal se vêem os atôres os objetos, o que seria essencial emerge difuso, provocando o ôlho do espectador. O aparente desleixo que consagra uma técnica realística, onde também, algumas cenas necessariamente cruas ou violentas, jamais denotam a vontade de chocar pelo prazer do espetáculo.
Em nossa opinião, o grande calcanhar de Aquiles de Bresson é o ritmo. Existe a lentidão funcional e aquela que, apesar das boas intenções, não proporciona nada mais do que sono ou exasperação ao público. No meio da primeira bobina, de
Au Hasard Balthazar, a vontade de dormir era quase irresistível. Resiste-se estoicamente porque se sabe que, de repente, pode surgir algum dado interessante. No caso presente, o melhor tem de ser esperado no desfecho, com a morte de Balthazar, cercado de ovelhas, após a sua odisséia, onde não faltou quem lhe ateasse fogo ao rabo. Mas há quem se deleite de ponta a ponta com Bresson; para êsses, viva, êle está aí mesmo, refrigerado pelo Paissandu.

Correio da Manhã
26/02/1970

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

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Jornal do Brasil 17/02/1957

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Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
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