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Vergonha

Vergonha (Skammen) não reedita o nível extraordinário dos dois filmes anteriores de Ingmar Bergman, Persona e A Hora do Lobo. Vai para o segundo plano de sua obra, embora não deixe de conter algumas coisas instigantes, fascinantes, que trazem o sinete IB. Primeira constatação: é a sua fita mais direta, menos hermética, desde que, a partir de O Sétimo Sêlo, abandonando a fase sommar, com as perquirições sôbre o amor na faixa neuropsicológica, ele entrou de rijo na metafísica e outras coisas mais complexas do além do além. Em Vergonha, uma vez ou outra escorregamos no fluir alegórico, porém, sempre explícito em seu significado, não comportando a realização exegeses ou dissecações mais repuxadas para que seja apreendida. Por onde chega a vergonha? Pela violência. Esta última, quanto mais institucionalizada, mais artimaliza uma sociedade. Quaisquer fôssem as intenções de Bergman, o problema da alienação não sobrepaira. Só há uma pequenina frase-chave, no momento em que Jacobi (Gunnar Bjornstrand) fala da frouxidão da arte. Um casal de músicos (de nôvo a dupla de A Hora do Lôbo, Liv Ullman e Max Von Sidow - e é descenessário frisar que os intérpretes de IB estão sempre excelentes) procura desesperadamente fugir ao ambiente de guerra - não têm, obviamente, nada com ela. Mas, a cada momento vão ficando mais engolfados pelos tiros, soldados, bombardeios e aí começa o exercício do diretor sôbre a degenerescência ou a miserabilidade humana acarretada pela ascensão da violência. O filme é cru, cruel, não deixa pedra sôbre pedra do caráter humano, quando quer fugir da repressão. A guerra, aqui, além de absurda, é intemporal como medida alusiva, embora, anedoticamente, e talvez para justificar os elementos do entrecho e décor, esteja situada em 1978. Nas seqüências de combate ou bombardeio, o cineasta se aproveita para matar as saudades de alguns claros-escuros dos seus tempos de namoro franco como o expressionismo (remember o fabuloso Noites de Circo) e de jogar com a plasticidade de alguns close-ups crispados. Em suma, a mensagem é clara: em tempos de violência, não há criação e, sim, destruição; a vergonha não é tanto do indivíduo e, sim, dos regimes e dos mecanismos de violência que aviltam a ética. Vergonha é agredir, proibir, reprimir. Bergman resolveu cuspir contra o seu tempo e o fêz com classe infinintamente superior aos "participantes" profissionais. Pode voltar para os seus fantasmas.

Correio da Manhã
26/01/1970

 
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