Metti, Una Sera a Cena é um filme que Giuseppe Patroni Griffi escreveu e realizou a partir de peça de sua autoria que teve repercussão na Itália. É a concentração sôbre cinco personagens, suas relações insólitas, seu comportamento estético-sexual, representantes da burguesia urbana, conforme, a classificação do próprio autor. Jean-Louis Trintignant personifica o escritor, homem de amoralismo altamente civilizado. Em dado momento, ao explicar a Annie Girardot porque acha que sua mulher (Florinda Bolkan) o ama, embora tenha vários amantes, êle diz: "O amor não é a fidelidade, é a constância." Florinda Bolkan está bem num papel difícil. Tony Musante, uma espécie de Jean-Claude Brialy italiano, faz o papel de ator e diretor teatral, amigo do escritor. Lino Capolicchio é o efebo homossexual, amante de Florinda e de Tony e que, posteriormente, fica só apaixonado por ela. A incansável Annie Girardot representa a mulher do homem de teatro, a figura mais passiva da trama, apesar de um dia, dentro do fastio de Michele, o escritor, haver-se entregado a êle. Todos; em paralelo, participam periodicamente de um jantar em conjunto, onde perfazem uma espécie de jôgo da verdade verbal, algo cínico, algo irônico, através do qual Patroni Griffi pretende reforcar o amoralismo. Isto, a superposição de ménages à trois, não só aceitos, mas estimulados pelos personagens, leva, na fita, a denotar a intenção do diretor de apontar a decadência de classe. No lance final, o teatrólogo invoca a China Comunista...
Numa Noite... Um Jantar é uma fita nada desprezível, apesar de pretensiosa. Há vários pontos interessantes, a começar pela fotografia de um ótímo especialista, Tonino Delli Colli. O esteticismo do cineasta, aliás, é quase de índole viscontiana, como que a corroborar estruturalmente a sua crítica política. Na confluência estilística, o barroquismo, que, no cinema, chega - como pode chegar - através do caráter literário. Esse enfeite intencionalmente literário aumenta a voluptuosidade das volutas, quando até comparece o metacinema devido à inserção do metateatro de Pirandello. Além disso, diversos elementos de uma simbologia elaborada, como a mania de Nina (Florinda Bólkan) de ficar na cama, nua, enrolada numa bandeira nazista.
Poderia ainda estarmos diante de uma obra bem superior, caso a multiplicidade de idéias não perturbasse a eficácia e evitasse o granguinholismo dominante.
Correio da Manhã
24/06/1970