Este é o segundo filme da carreira de Walter Lima Jr. e, com o qual, concorreu ao Festival de Berlim do ano passado. Apesar da frieza e da imcompreensão da maior parte do público, o júri concedeu-lhe um dos Ursos de Prata. Entende-se a incompreensão: Brasil Ano 2000, ao contrário de outros filmes de sabor mais regionalista, ou meramente descritivos de um folclorismo, envida formular uma espécie de mélange de nossos fatôres culturais (basta ver que, musicalmente, permanece sob a égide da tropicália, ou de Caetano Veloso e Gilberto Gil). Ora, boa parte de tais elementos (a começar pelo próprio espirito da tropicália), são, ao primeiro relance, pouco acessíveis às platéias estrangeiras, incapazes de assimilar nossas complexidades. Verdade que contribui para isso uma certa frieza que embota o appeal alegórico, a perpassar durante todo o desenrolar da fábula ou parábola futuróloga.
Por isso mesmo, dada a desigualdade entre ambição do projeto e sua execução, ainda preferimos o primeiro longa-metragem de Walter Lima Jr., Menino de Engenho, quando conseguiu, com muita propriedade, captar o espírito de Zé Lins e devolvê-lo, sob forma cinematográfíca, em saudável tom evocativo. Tal preferência, no entanto, não significa em considerar Brasil Ano 2000 como uma obra destituida de maior interesse. Pelo contrário, logo de saída, representa um esfôrço de sair por uma vereda pouco explorada. Ápenas uma certa inexperiência, ou o distanciamento não-intencional é que impediram que o resultado se projetasse fora da oscilação constante êxito x fracasso.
A história, em linhas gerais, mostra três pessoas a vagar após o término de uma hipotética a III Guerra Mundial. Chegam a uma cidade chamada Me Esqueci, que tem tudo em matéria de primitivismo e tecnologia: de um lado, ainda os habitantes índios; de outro uma base de foguetes. E as expectativas passam a girar em torno da chegada de um general importante. Para isso, o ritmo da fita, às vêzes lento, às vêzes fluente, transmite a placidez de um futuro ainda pleno das contradições, a justificar o espírito de procura da môça (Anecy Rocha, em boa aparição). Em suma, Brasil Ano 2000 não deixa também de colocar em foco o problema da liberdade, que, aliás, sem fábula nenhuma, constitui um problema muito, muito, do presente.
Correio da Manhã
02/06/1970