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Butch Cassidy

Cinema
José Lino Grunewald
Butch Cassidy and the Sundance Kid - a nostalgia do passado, Jules et Jim do faroeste. Luxo encantatório de som e motovisão, a melhor coisa na carreira, já instigante, do cineasta George Roy Hill. E as aparições de Paul Newman (Buteh), Robert Redford (Sundance Kid) e, principalmente, Katherine Ross (Etta Place). A cena da bicicleta, onde Butch e Etta giram em tôrno da casa, ao som de Raindrops Falling on my Head, pode, talvez, ir para a história do cinema.

***

Butch, Sundance e Etta faziam parte do famoso Wild Bunch que era a mais variada e violenta associação de
gangs de marginais do oeste - isto por volta do fim do século passado. A Wild Bunch começou a ser liqüidada no início do século atual, graças ao maior, aprimoramento técnico dos órgãos policiais, que acarretavam também o fim da era romântica do marginal.
Butch Cassidy seria casado e pai de dois filhos, antes de se dedica inteiramente à vida de bandido. Nasceu em 6 de abril de 1866 e seu nome era Robert LeRoy Parker. Adotou o nome de Cassidy por causa de um
gunfighter que êle admirava. Tornou-se excelente atirador. Começou roubando gado, depois concentrou-se no roubo de bancos e assaltos a trens. Possuía simpatia pessoal, senso de humor, não era viciado, nem assassino a sangue-frio. É o que relatam seus biógrafos. Um dia cavalgou cêrca de 50 milhas a fim de trazer remédio para uma família doente. E, até o tiroteio com o exército boliviano, não havia sinal concreto de qualquer pessoa morta por êle. Essa batalha de dois contra um exército inteiro; que o final do filme transcreve foi o término da carreira dêle e de Sundance Kid. Só com uma diferença: na realidade, ao contrário do relatado na tela, foi o Kid quem partiu para a busca da Mula com munições e tombou varado de balas. Buteh, então, se suicidou. A fita, aliás, além do ménage à trois com Etta (quase que uma reprodução da ética do humanismo, contida em Jules et Jim deixa sugerida a ligação homosexual entre os dois. Butch também era chamado de Robin Hood dos Pampas e, junto com Kid, andou atuando na Argentina, além da Bolívia. Outro apelido seu: Gay Desperado.
O nome real de Sutidance Kid era Harry Longbaugh. Era o companheiro mais próximo de Butch e, ambos, juntos com Etta, viajaram por New Orleans, Nova York e América do Sul. De sua extrema ligeireza no gatilho, tão frisada no filme, basta o testemunho de Percy Seilbert: ''êle era rápido como uma língua de cobra".
Etta Plase era tida como a principal figura feminina do Wild Bunch. Alguns diziam que pertencia ao bordel de Fanny Porter, também vinculada aos bandidos. Mas o testemunho do detetive Frank Dimaio é mais considerável: ela era uma professora de Denver que se apaixonara por Sundance Kid. Foi esta versão, assim, adotada pelo filme.
Por isto são mais do que justificáveis as palavras escritas na tela, na ouverture do espetáculo: quase tudo o que aconteceu aqui representa a verdade. A verdade dos eventos, no entanto, sob uma óptica nostálgica, com o suporte da extraordinária fotografia de Conrad Hall, aliás premiada com o Oscar. Em suma, uma realização onde a violência dos fatos é intencionalmente diluída pelo lirismo e por um ritmo quase perto daquele da aventura musical. E está presente a perspectiva do término de uma época - a era do
gunfighter - já traduzida em outras obras marcantes de diretores como Ford, Henry King ou Samuel Fuller.
Um dos fatôres importantes a constatar, a partir de
Butch Cassidy and the Sundance Kid reside numa determinada tendência atual do cinema americano no sentido de apresentar duplas de pessoas contra o sistema: é o que se vê em Easy Rider e Midnight Cowboy ou também em Bonnie and Clyde. E, no tocante, à facêta nostálgica, já impressa inclusive num tom de fotografia intencionalmente usado, êste último filme citado é ainda o que mais se aproxima de Butch Cassidy. O desfêcho é quase o mesmo e - também intencionalmente - o realismo da violência dos tiros só eclode quando vem do sistema contra os marginais. Se a morte brutal de Bonnie and Clyde dá conseqüência a uma transfiguração poética, aquela de Butch e do Kid permite vazão ao esporte risonho de heroísmo romântico.
O que se nota também nesses filmes - talvez até sintoma de uma época de contestação aos valôres adquiridos e mantidos até à fôrça de repressão - é, não apenas a romantização dos marginais, mas, mesmo, a sua glorificação num plano ético ou hedonista. No caso de
Butch Cassidy, por exemplo, inexiste também o sentimento de necessidade para justificar a atitude dos marginais, como o fazia antigamente o cinema, quando o protagonista, marginal, era simpático ou romantizado. Não há justificativa de natureza psicológica (tipo ''a mamãe batia muito nêle quando era criança") ou econômico-social (tipo ''tentou um emprêgo e não conseguiu devido à hostilidade do meio") - vide, no passado, Vive-se Uma Só Vez, de Fritz Lang, e as decorrêneias & adjacências. Os personagens são simplesmente acionados, em clima poético, em óptica de exaltação, e - fim.
E fica aí
Butch Cassidy and the Sundance Kid: renovação dentro do gênero e um dos maiores westerns dos últimos tempos.

Correio da Manhã
10/05/1970

 
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