L'Amour é um filme de Richard Balducci. Confessamos nossa ignorância a respeito de M. Balducci. Um casal jovem chega ao apartamento de lua-de-mel. No primeiro relance, não reconhecemos quem é quem, tantas as plumas logo espalhadas no ar. Mas, logo após, ficam despidos para a cerimônia íntima e, então, por eliminação ao divisarmos os seios de Martine Brochard, sabemos que José Maria Flotats é (pelo menos para efeitos dramáticos) o homem. Dormem, acordam, fazem refeições preparadas por ela, mocinha moderna, mas que tem bossa de Amélia, vão pro trabalho, êle fica mexendo num invento eletrônico, voam as roupas e recomeça tudo. Come-come, déspe-déspe incessante, a felicidade também é incessante, saem na baratinha branca dêle (dela?) vão até a Riviera italiana, dão uma de A Um Passo da Eternidade (remember Burt e Deborah), lá na beira da praia, sôbre as rochas, entre os estrondos das vagas. Tanta ventura já começa a enjoar o espectador, mormente aquêles mais céticos e maliciosos. Bob (Flotats), porem, não cansa de surpreender: faz também um filho (nela, ora!) e, quando recebe a notícia, arremessa-se sôbre o colo da amada, soltando plumas de nôvo. Afaga-lhe a barriga - ligeiro hiato de dois minutos de projeção para os nove meses acadêmico - depois a cena grotesca do parto, com o enquadramento do côco do ginecologista entre as pernas de Martine. Mas o bebê chora demais, chateia dentro do apartamentinho e, aí, Flotats desmunheca de vez. A boneca não pode trabalhar no invento, muito menos, dadas às interrupções, fazer aquilo que, dêsde Adão e Eva, a censura proíbe que seja em público. Não sabia que a vida doméstica tinha seus contratempos? Que o mel da lua vira o fel da luta do dia-dia-dia-dia-dia etc.-etc.-etc? Pronto, faz carinha de zangado, mostra inexperiência para as primeiras rusgas, faz a malinha, põe lá dentro aquêle troço que está inventando, e se enfurna no apartamento de um colega que tem o bom gôsto-de beber uisque escocês (também, pudera! o nosso, felizmente para êles, não chega a Paris, com o acessório obrigatório e implacável da dor de cabeça). O amigo, de riso frouxo, também é dado a mulheres, e aquelas festinhas íntimas que fazem a delícia à meia-luz dos pequenos sócios do establishment. Flotats cria coragem, vai entrar na farra, vai pisar o gramado pela primeira vez, leva a môça pro quarto e... falha. Volta correndo ao lar, sob pretexto de uma febre do bebê; e arromba a porta do happyending. Outra vez o ciclo do come-come, déspe-déspe; matizado pelos gemidos que vêm do berço. Tudo em côres porque ninguém é de ferro. O corpo de Martine é bom. Pena que não haja mais geração coca-cola para levar Intimidades Conjugais a sério.
Correio da Manhã
03/04/1970