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Tostão, a fera de ouro

Este filme oferece um aspecto inédito, embora depressivo: consegue tornar chato o futebol. Não evidentemente por culpa do astro principal, Tostão, que é o nosso maior jogador, um dos maiores, senão o maior atacante do mundo, embora esteja barrado por Zagalo. O problema era documentar o espetáculo do futebol, através da carreira do jogador do Cruzeiro. Caímos, no entanto, no desenvolvimento algo chôcho de um tema que tem a sua visualidade e seu dinamismo bem estimulantes.
Por incrível que pareça, os nossos cineastas ainda não fizeram as pazes com o nosso futebol. Ainda não apareceu o craque atraz da câmara para isso. O próprio
Garrincha, Alegria de Um Povo, de Joaquim Pedro de Andrade, embora com alguns instantes apreciáveis, deixava uma sensação decepcionante de frieza. O futebol é dionisíaco; o cinema que se faz em tôrno dêle não reflete nada disso. A não ser nos excelentes shorts semanais das produções de Carlos Niemeyer, onde a mera montagem de alguns closes do público com as cenas de jôgo já conferem a sensação do emocional coletivo.
Nesta realização de Paulo Laender e Ricardo Gomes Leite há a carência de nexo estrutural. Assistimos à repetição de vários lances de gol durante as partidas eliminatórias da Copa do Mundo, entremeadas com alguns lances de cinéma vérité, de Tostão em casa ou na rua, às vêzes contando aspectos de sua vida. Mais algumas cenas de treino e uma palavrinha de João Saldanha, do técnico e preparador físico do Cruzeiro e duas intervenções, com os botãozinhos, de Rui Pôrto, uma espécie de diluição de Armando Nogueira. Os elementos, tal como são apresentados, são pobres e não possuem relacionamento dinâmico. O filme permaneçe expositivo, rebarbativo, não traz nenhuma medida épica ou realista do craque. A foto, às vêzes, é muito boa, porém, como contribuição isolada.
Como diz João Cabral de Melo Neto, muitas vêzes uma realidade é tão violenta que, ao tentar apreendê-la, tôda imagem rebenta. Aqui, entre o impacto da realidade no espetáculo do futebol, a sua expressão cinematográfica afundou no hiato da intenção. A fita pode ser consumida pelos fãs de futebol e elogiada pelos seus fanáticos, mas os fãs e fanáticos de cinema ficarão na mesma. Onde o ritmo? Onde a demonstração de seus autores de que compreendem Tostão e o futebol, não apenas em sua técnica, mas em seu extravazamento mítico, social, dionisíaco? Nada.

Correio da Manhã
02/04/1970

 
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Revista Leitura 30/11/-1

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