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O palácio dos anjos

Afinal, em parte, o cinema brasileiro já tem a sua Bela da Tarde (aliás, belas), por obra e graça de Walter Hugo Khouri, com O Palácio dos Anjos. Mas por que aquelas mulheres (as interpretadas por Rossana Ghesa e Adriana Prieto) fazem tal cara de quem comeu o merengue e se enjoou quando estão no ápice do ofício? Essa pieguice nos reporta a uma espécie do realismo noir do cinema francês na década de trinta. Afinal, o meretrício pode (e não nada de anormal) ser alegria, a alegria do instrumento. Ainda mais com aquêles requintes rococó’s e orientais, modêlo James Bond.
O meretrício é a mais antiga das profissões generalizadas: sobrevive a costumes, regimes, religiões e civilizações. Só o amor livre institucionalizado pode acabar com esse binomio medíocre e utilitário: dinheiro-sexo. Ou, talvez, se algum dia acontecesse o fim da família: com esta, evidentemente, cal o meretrício, junto, juntinho.
Três datilógrafas, apetecíveis, cansam-se de ser datilógrafas e do pouco tutu, sem falar nas cantadas humilhantes que sofrem no escritório. Desprezam a proposta de Joana Fomm de serem estrêlas de uma versão de La Licorne e decidem tornar-se autoprodutoras do talento até então inexplorado. Sucesso absoluto e depressão de duas delas (a francesa Genéviêve Grad - realmente a melhor das três - prefere o lesbianismo com Norma Bengell, cujo personagem é tão inútil como o tema da fita). A sugestão parece-nos piegas: se muitas datilógrafas sonham com o luxo do meretrício, são poucas as mariposas de luxo que sonham com os rigores da datilografia. E aí está - por que não uma fita alegórica, um ballon rouge à la Buñuel de três prostitutas que entram numa escola de datilografia?
Escassas coisas restam a serem ditas dêsse filme, que, embora bem administrado, falece na falácia de uma estruturação desprovida de qualquer foco de instigação. Reconhecemos a seriedade de Walter Hugo Khouri e lamentamos que, depois de As Amarosas (talvez o seu melhor filme), haja falhado com O Palácio dos Anjos (possivelmente o seu pior filme). Evidentemente, ninguém estará condenando o tema em si, porém o seu tratamento simplista e o encaminhamento de um ritmo que nada tem a ver com a propulsão cinematográfica. E - triste consôlo - as mulheres mal se despem.

Correio da Manhã
15/06/1970

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

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Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
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