Minha Bela Dama (My Fair Lady) é uma reprise sempre recebida de braços abertos: um dos maiores musicais de todos os tempos, com as canções de Alan Jay Lerner e Frederick Loewe compondo um score capaz de rivalizar com aquêle das grandes operetas, seja de um Victor Herbert, um Sigmund Romberg, um Rudolph Friml, um Jerome Kern.
Adaptação para o teatro musicado da peça de Bernard Shaw, Pigmalyon, que, no cinema, sob a direção de Anthony Asquith, foi vivida por Leslie Howard e Wendy Hiller. O êxito teatral da versão musical logo instigou os produtores, que convocaram um grande expert, o diretor George Cukor; e um elenco admirável, onde pontificaram Rex Harrison, Audrey Hepburn, Stanley Holloway, em caracterização magistral, e Wilfrid Hyde-White. Décors, vestuário e planejamento de produção a cargo de Cecil Beaton, que encontraram perfeito entrosamento com a cintilante fotografia de Harry Stradling, para a projeção em 70 milímetros. Em suma, um dos filmes mais bem administrados dos últimos tempos, sucesso de público e de crítica. É ver o brilho de Cukor, na cena que Audrey canta a famosa valsa I Could Haye Danced All Night, ou nas seqüências do baile ou do hipódromo. Requinte, sofisticação, bom gôsto, a serviço do espetáculo, onde o pensamento de Shaw não fica esquecido, é apenas servido numa bandeja algo diluída pelo perfume do show-business.
O tempo de projeção de mais de 3 horas jamais poderá levar ao cansaço - isto é cinema, embora para alguns não seja arte, palavra esta inadequada quando se trata de criação industrial. George Cukor é um cineasta cuja obra está menos voltada para a experimentação do que para o espetáculo: alguns dos filmes de sua última fase já perfaziam a trilha para My Fair Lady: A Star is Born, Les Girls, Let’s Make Love.
Correio da Manhã
18/03/1970