Charles Chaplin, O Homem Mais Engraçado do Mundo. Nôvo reencontro - "O Carlitos, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode caminham numa estrada de pó e esperança", desfecho do antológico poema de Carlos Drummond de Andrade sôbre o maior mito do cinema - e quantos outros poetas não se ocuparam dêle? Maiakóvski, Aragon, etc. É fácil verificar que as alavancas do riso ainda não foram além daquelas acionadas pelo vagabundo lírico. A crítica moderna redescobriu Buster Keaton, evidentemente mais sofisticado, porém com menos do que aquêle "algo mais" chapliniano.
Agora, nesta seleção, além de muitos outros ases e figurantes das comédias sennettianas ow da Essanay, como Marie Dressler, Fattie Arbuckle, Hen Turpin (o vesgo sensacional), Mabel Normand, Chester Concklin, podem ser vistos trechos de algumas comédias primitivas e de outras, ainda em curta ou média metragem, mais elaboradas, como The lmmigrant ou Shoulder Arms. Estes dois são duas pequenas gemas no gênero - onde, além do disparar do lirismo e da hilaridade, perpassa o tom da crítica social a várias instituições. Aliás, essa característica viria a ficar decisivamente estratificada na última obra-prima de Chaplin (não o seu último filme), Monsieur Verdoux - hino cínico e iconoclasta ao "homem revoltado".
Por isso, ao revermos essa seleção, que, apesar de todo o Vigor, corresponde às obras ''menores" de Carlitos, é o caso de indagar quando, outra vez, êle voltará a liberar os seus grandes clássicos, de pungência insuperável, obras que custam a envelhecer: City Lights, Modern Times, o citado Monsieur Verdoux, The Gold Rush (O Circo vem aí, já voltou a sacudir a Europa mas é pouco). Gerações inteiras continuarão apenas no hors d'oeuvres do grande Chaplin. O mesmo Chaplin, que, segundo Godard é "o Leonardo Da Vinci do cinema".
Correio da Manhã
16/01/1970