500 Milhas (Winning) é mais uma fita em tôrno de corrida de automóveis, aproveitando a pista ultrapanorâmica da projeção em 70 milímetros. Mas não obtém o mesmo êxito em matéria de espetáculo de Grand Prix dirigido por John Frankenheimer. Aqui, o script obedece a uma linha mais vulgar e o diretor, James Goldstone, apesar da barba que envergou pelo menos durante as filmagens, em nada contribuiu praticamente, a não ser filmar lndianápolis & arredores ou ficar olhando, por detrás do visor, para a cara de Paul Newman. Os trechos mais instigantes (obviamente da hora das corridas) se devem mais aos técnicos em efeitos especiais do que à imaginação (ausente) do metteur-en-scéne. Algumas fusões, conjugadas com tomadas poéticas em flou subitamente contrastadas pelos rugidos dos motores.
O entrecho-pretexto é simplório. De nôvo o triângulo. Paul Newman é campeão - conhece Joanne Woodward (que, fora da tela, já é sua mulher de fato e de direito), um dia de pileque namora, faz outras coisinhas que a serpente ensinou a Adão & Eva, casa-se, adota o filho dela, de 16 anos, que o toma logo por ídolo - Joanne, todavia, sente-se só com a vida do marido entre pistas e motores - acaba entregando-se a outro campeão Robert Waggner (acreditem, Bob Waggner mesmo!), não tão dedicado ao métier - Newman, zangadinho, faz cara e silêncio à la Marlon Brando - no final, mea culpa de lado a lado, a perspectiva da reconciliação e o herói, depois de haver ganho lndianápolis vai trocar a pista de corridas pela cama conjugal, sem haver o espectro do “outro”. Tudo muito civilizado para filme comercial made in Hollywood. Antigamente, na era do Código Hays, um mero ósculo adúltero era bastante para dificultar uma reconciliação ao casal. Hoje, mesmo após um vale-tudo erótico, ela está aí batendo à porta do bom-senso. Afinal o que seria da solidez de muitos casamentos sem o adultério? Suécia rides again in the States.
Correio da Manhã
30/01/1970