Teoreoma continua em foco, badalado. Acontece com o filme de Pasolini o mesmo que ocorreu, com 2001, de Kubrick: o seu interêsse extravasou da área da crítica cinematográfica. Pessoas que não se ocupam de cinema, ocupam-se de Teorema, na maioria dêsses casos falando contra, externando seu escândalo. Ótimo. Mostra que Pasolini atingiu o alvo: remexeu o môfo e a intolerância. Se todo mundo dissesse amém, Teorema seria só mais um clássico; já, a gritaria mostra que se trata da invenção, da informação nova. Informação nova certamente não será a invocação do homossexualismo do cineasta, para condenar a obra. O homossexualismo já não era novidade sequer para Sócrates. Por que, então, não condenam, além dos clássicos gregos, latinos, o homossexualismo de Leonardo, Michelangelo, dos sonetos de Shakespeare, Marlowe, Winckelman, Verlaine, Rimbaud, Georg, Hart Crane Dylan Thomas, apenas para ficarmos com alguns mortos ilustres? De outro lado, alguns materialistas ortodoxos (e, isto, faz do materialismo uma religião como outra qualquer) acusam a fita de misticismo. Ora, êle deve ser tão velho quanto o homossexualismo: é forma de conhecimento, a parapsicologia explica isso. O que está em jôgo, em tôrno de Teorema, é o problema essencial da liberdade (saber estar livre de preconceitos) a mesma liberdade, que, como disse André Breton é a condição básica para a objetividade na arte.
Correio da Manhã
04/12/1969