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Vida e glória de um canalha

Milton Rodrigues sai da farmácia, pula no asfalto da rodovia Presidente Dutra e faz sinal para o São Paulo-Rio da Cometa. Não é que o Morubixaba pára mesmo? Bem, vá lá. Entra e senta-se logo ao lado de uma boa que lhe dá bola. A solução é fulminante - quando o ônibus estaciona em Itatiáia, no bar-restaurante do Mário Tamborindeguy, onde tudo, a começar pelos refrigerantes, custa o dôbro do preço, os dois, em vez de comer ou ir ao toilette, saem correndo para o mato a fim de fazer aquilo que não ensinaram à Virgem Maria. Mas, à sorrelfa-sorrelfinha, há um sujeito espreitando o ritual por entre as estrias do capim colopial. A mulher, no entanto, é decidida: veste-se, abre a bôlsa, estende o tutu ao curioso e manda ver se ela está na esquina. A essa altura, com um intróito de tal natureza, e não se tratando da metachanchada de Sganzerla, o espectador já sabe o que pode esperar.
No take seguinte, êle já está, de sua área de serviço, paquerando Odete Lara. Esta lhe oferece almôço (ou jantar). Vai célere e, entre comer a refeição e a própria vizinha, já é a distância de um minuto de metragem. Chega, com barba, o marido. Parece boa praça e muito civilizado, pois é o primeiro a lhe dizer que continue fazendo companhia à mulher. Esmola em demasia - dá pra desconfiar. Certo; logo na cena seguinte, o sujeito leva Milton Rodrigues para ver a sua coleção de cachimbos, mexe aqui, mexe ali, vem a proposta socrática, recusada com fervor (vê-se, assim, que o gôsto pelos cachimbos possuía uma conotação fálica). O marido se mata e agora é a filha de Odete quem se apaixona pelo galã amoral. Este não quer nada, acaba se rendendo à persuação da garôta, que se despe para êle - só para êle, para nós, a censura, que é o principal personagem metalingüístco do cinema brasileiro, entra e corta a cena. Mais uma dura decepção: se não pode haver nudismo, o que é que se vai ver numa fita destas? Mas, insensivelmente (e era só haver atendido aos apelos homossexuais do pai da menina), o nosso mocinho estava quase dando uma de Teorema, na família inteira. A jovem flagra-o com Annik Malvil. Mata-se também, depois de deixar imenso bilhete para Odete, a mãe. Nos interregnos da tragédia, Milton também reincursiona com aquela tal mulher da Cometa, chegando inclusive a praticarem o esporte do sexo na frente do próprio marido da dona, que, diante disso, só tem que ter um colapso fulminante, Milton e Annik começam então a roubar jóias - ela, por incrível que pareça, não se despe neste filme, sêquer circula em trajes menores. Então, a loucura já parece ser total. Odete Lara assina furiosamente cheques para o vigarista. Êste, por seu turno, providencia uma operação plástica para a irmã, que perdeu a virgindade (oh!) e é noiva do filho de um senador (se, hoje em dia, a maioria dos senadores limita-se a bater continência, isso não impede que ainda sejam ricos, mormente os que vêm lá do Norte). O final é trágico, mas, na platéia, ninguém chora, a não ser o dinheiro da entrada. Alberto Salvá só deu sinal de direção em alguns planos do assassinato da noiva. E é o fim.

Correio da Manhã
24/05/1970

 
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