René Clément é um dos maiores diretores franceses do pós-guerra. Não é "importante", não é um inventor, não atuou no processo da linguagem do cinema, é um mestre, um expert, um cultor da eficácia, do savoir faire. Realizações como a poesia de Jeux lnterdits, o humor de Monsieur Ripols, a reconstituição dramático-naturalista-ambiental de Gervaise (baseada em um dos maiores livros de Zola, L'Assomoir), atestam isso, em fluxo quase ininterrupto.
O Sol Por Testemunha (Plein Soleil), filme datado de 1959, agora em reapresentação, consiste em um dos seus maiores espetáculos de mestria, de contrôle de ator e de clima dramático. Uma obra que atinge ao público e à crítica especializada e, por isso, está aí em reprise e em segunda semana. Ritmo calculado com precisão, pitadas de decadentismo, eficiência no tratamento cromático e a revelação que foi Mafie Laforet, de início, nesta fita, uma beleza irregular, algo selvagem, depois estilizada no esteticismo de La Filie Aux Yeux D'Or, de seu marido, Jean-Gabriel Albicoco.
Uma história no esquema triangular de personagens, na linha paixão-ambição-crime-castigo, hitchcockiana sem humor. Ao lado de Marie Laforet, Alain Delon e Maurice Rohet cumprem atuação também eficaz, em crescendo dramático quase imperceptível, graças ao nível de funcionalidade conferido pelo diretor.
Um industrial incumbe a Tom Ripley (Delon) da missão de buscar seu filho, Phillipe, para, de volta, assumir a emprêsa. Phillipe (Ronet) está na dolce vita, é amante de Marge (Laforet), e não quer voltar. Tom, então, fica por lá e começa a triangulação. O argumento baseia-se em romance de Patricia Highsmith e o roteiro é de autoria do próprio Clément e de Paul Gegauff. Completando uma equipe excelente, temos o acompanhamento musical do felliniano Nino Rota e a fotografia em côres de um grande especialista, Henri Decae.
Correio da Manhã
11/11/1970