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Robert Wise: Andrômeda

Andrômeda possui vários significados. Pode referir-se a uma constelação do hemisfério boreal, a grande nebulosa de Andrômeda, distante cêrca de 2 milhões de anos-luz. É também uma espécie de molusco de concha e, em paralelo, o nome de um arbusto americano, que dá flôres, próprio de regiões desertas. Enfim, mitologicamente, era a filha de Cefeu, Rei da Etiópia, e de Cassiopéia, oferecida para acalmar um monstro marinho que arrasou o país, enviado por Poseidon. Quando ia ser devorada, chegou Perseu, montado no Pégaso, matou o monstro e desposou-a.
Tornou-se parte do título de um SF bem conhecido; de Michael Crichton, e, agora, um filme de Robert Wise. Nascido em 1914, depois de, entre outros, haver sido o montador de filmes notáveis de Orson Welles, como
Citizen Kane (Cidadão Kane) e The Magnificent Ambersons (Soberba), Wise iniciou-se na direção em 1944, na famosa série de horror do produtor Vai Lewton, com The Curse of the Cat People (A Maldição do Sangue de Pantera). Lewton foi exatamente o homem que viria a promover a ascensão de cineastas da primeira linha de Hollywood, na década de 1940, como, além de Robert Wise, Mark Robson e Jacques Tourneur.
A formação eficiente de Wise, aquela que lhe garantiu o domínio do instrumento, garantiu-lhe também uma carreira de grande destaque. Pode não figurar na primeira linha dos principais criadores, em especial por aquêles que alimentam o preconceito subnutrido contra a técnica, mas sempre traduziu, na sua obra, a certeza de profissionalismo e conhecimento de causa.
Já em 1949, lançava um clássico do cinema e o filme máximo no gênero boxe: The Set-Up (Punhos de Campeão), com a inovação (repetida, mais tarde, em High Noon, de Zinermann) de e tempo da história ser idêntico ao tempo real de projeção. Em 1951, realizava um dos science-fictions mais famosos, The Day the Earth Stood Still (O Dia em Que a Terra Parou). Em 1958, um dos melhores filmes de denúncia do instituto da pena de morte, I Want to Live (Quero Viver), com Susan Hayward. Logo depois, excelente drama policial, Odds Against Tomorrow; com Robert Ryan e Harry Belafonte. Dois musicais de grande êxito ainda assinalam sua filmografia: Westside Story e The Sound of Music.
Logo abaixo de 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, O Enigma de Andrômeda talvez possa ser rotulado de melhor SF do cinema, apesar da concessão final de um suspense de caráter novelesco. Poucos cineastas como Wise saberiam adaptar-se tão bem ao universo da tecnologia. Extraindo alguns lances convencionais de armação do plot - além do suspense final, a convocação dos cientistas - essa sua realização é quase que um documentário frio, e, ao mesmo tempo, bem tenso, a respeito do mesmo mundo tecnológico, de uma parafernália de sofisticadíssimo know-how, longe do alcance do público e privativo de uma minoria de especialistas. Essa mesma especialização necessariamente intensa, que, pelo distanciamento dos cientistas, chega a mudar o seu approach com a vida, da sensação para a simples tese - a responsabilidade pelo conceito de sobrevivência traduzida em números.
É claro que, como ocorre ultimamente, os computadores passam a ter um papel primordial na resolução da trama. Aqui, de nôvo, o impacto do desconhecido, desafiando a técnica e a inteligência. Está materializado em Andrômeda, a célula viva no bôjo do satélite, que destruiu um pequeno povoado e ameaca destruír a Humanidade. A Ciência, em regime de urgência, luta contra o relógio.
Só em colocar o contraste do choro da criança, dentro do silêncio, da esterilização ambiental, do requinte do labirinto de máquinas eletrônicas, conseguiu o cineasta conferir de modo direto, o grito de revolta do ser contra a sua própria desumanização, suicídio fatal de uma estratégia, a girar entre a demiurgia e os mefáveis "segredos de Estado". Em 2001, a Física (Astronáutica), levando o homem ao espaço externo, ao choque cultural, à revisão de Deus. Aqui, a Química, conduzindo ao espaço interno intimista, ao choque dos organismos. E Wise, que influenciara Kubrick, no início da carreira dêste, recolhe, agora, alguns sopros da obra máxima dêste último, banhando-a em ironia e naquela espécie de computador pifa, no desfecho, e re-humor negro cósmico, quando o tornam, os créditos da fita.

Correio da Manhã
30/10/1971

 
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