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Deixem-nos viver

O renascimento dionisíaco que se opera no século atual, graças à máquina, indústria, drogas, repulsa a um universo de competição, forjado pela mentalidade de se "preparar para o futuro", não poderia ficar indiferente ao cinema (que, aliás, é uma das forças que o acionam). Isto, de início, firmou-se na sétima-arte pela liberação dos temas e cenas sexuais e o fim da era do moralismo, do "crime não compensa" etc. O erotismo e o chamado vício (alguns vícios estão virando virtude e vice-versa) despontaram no ímpeto do espetáculo. Depois, os próprios cineastas começaram a atacar o problema, procurando a ética do despertar neopagão.
Este ano, por exemplo, já tivemos, aqui, em exibição, dois filmes sérios, contundentes, que tentaram mergulhar no assunto, invocando, em conseqüência; o problema da liberdade (principalmente, a liberdade de revolucionar os costumes):
Sem Destino (Easy Rider) e, agora, Deixem-nos Viver, (Alice's Restaurant). O primeiro, de Dennis Hopper e Peter Fonda, mostrava a violência de redutos mais intransigentes do establishment contra os nômades libertários - drogas e cabelos compridos tratados como nova forma de peste. Havia, no entanto, uma componente depressiva no espírito geral da fita que comprometia a euforia natural do universo pagão. O pessimismo e o desfecho brutal serviam menos à causa libertaria do que para denunciar determinado sistema de vida, agressivamente provinciano, que envida sobreviver mesmo a preço do crime quase oficializado.
Alice's Restaurant, de Arthur Penn - um dos melhores cineastas do momento (Caçada Humana, O Milagre de Anna Sullivan, Bonnie & Clyde, Mickey One) - focaliza a virada dionisíaca da nova geração sob aquêle aspecto de alegre tranqüilidade propiciado aos jovens pela marginalizaçao intencional, diante dos valôres da sociedade competitiva. A própria violência, quando eclode ocasionalmente (seqüência em que Arlo Guthrie é jogado pela janela do bar), é menos catártica do que descritiva. A igreja de Ray e Alice, uma ilha imperturbável no meio da pequena cidade. Acolhe os companheiros nômades e é um breve mundo comunitário de bens de cama e mesa. Nisso tudo, Penn formula o estar dos atôres de modo admiravelmente informal, inocula-lhes a semente do amor à vida sem a necessidade de qualquer traço polêmico. Depois de dissecar o estado de violência num poderoso processo de impacto, em fitas imediatamente anteriores - Caçada Humana (The Chase) e Bonnie & Clyde - realiza uma obra extremamente pessoal e mais distante do seu estilo de choque. Resultado de sua crença, aparentemente inabalável, de que o novo estilo de vida, apresentado por seus personagens, virá a traduzir a reimplantação de um autêntico humanismo. É assim, mais uma obra de afirmação do que de evasão.
Também o que há de moderno em Alice's Restaurant é uma espécie de clima de descontinuidade entre, as seqüências, a funcionarem entre si quase que como os tableaux de Godard. Tudo pacifico e horizontal, em contraposição às normas do crescendo clássico. O protagonista, Arlo Guthrie, é êle mesmo, ou seja, não é um personagem fictício encarnado pelo cantor - se tudo que ocorreu na tênue historieta fôsse verídico, o seu comportamento seria o mesmo. O principal, dêsse modo, não é o condicionamento anedótico, mas a simples fabulação de comportamentos. Aí reside o verdadeiro sentido de um dos filmes mais fascinantes do ano, em estrutura de balada.

Correio da Manhã
01/09/1970

 
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Revista Leitura 30/11/-1

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O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

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Jornal do Brasil 17/03/1957

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Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

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