Das vantagens de ser educado num bordel para vencer na vida. A mãe do menino ra cartomante e muito sofisticada: usava o tarot. Morre, e êle é levado para uma amiga da genitora, que o sustenta em seu bordel. Lá, evidente e prematuramente, aprende coisas que nem Ovídio desconfiaria. Aí, já adulto e queridinho no local, entram em sua vida Rossana Ghessa (logo no saudável ritmo do despe-despe) e Jece Valadão (este, num papel ao qual já está ultra-escolado): o gigolô e sua mina. O rapaz (Cláudio Cavalcanti) mete-se no meio dos dois e então o resto da fita, além do citado, despe-despe (de Rossana e outras meninas votadas ou dotadas), se resume no pingue pongue de golpes entre um malandro e outro. O desfecho, porém, é feliz - uma ode à malandragem: o último pato atraído pela isca da mina, ricaço e grande empresário, acaba morrendo (parece que por excesso de excitação sexual), ela assume o holding e coloca os dois valetes em importantes cargos de direção. O ménage à trois assenta-se em bases sólidas; estáveis e pacíficas, além da foto em technicolor, porque ninguém é de ferro. Assim é Memórias de um Gigolô, a demonstrar inclusive que, embora não estejamos em regime estruturalmente, de democrático, a atual censura é a mais liberal de tôda a história, pelo menos em matéria de sexo, nudismo, erotismo e outras cíências menos ocultas.
O diretor, Alberto Pieralise, limitou-se a dar rendimento ao filme ao nível de sua imediaticidade comercial. Amparada razoavelmente pelos recursos técnicos, a trama escorre ao môlho de algumas seqüências cômico-grotescas e da ousadia do nudismo. Os intérpretes vivem seus papéis de maneira quase informal, como se soubessem que o público, dada a natureza do espetáculo, está mais preocupado com os lances dos corpos (femininos) do que com os espíritos de qualquer sexo. É o fim do voyeurismo; basta comprar a entrada
Correio da Manhã
07/09/1970