Carnal Knowledge (que, aqui no Brasil, vai se chamar Ansia de Amar), constitui urna das abordagens mais cruas do tema-título, segundo inclusive, o depoimento de observadores e críticos estrangeiros. Corresponde a um dos ápices dessa fase do sex liberation, intensa em Hollywood, desde que, após a queda do Código Hays e do macartismo, começou o seu cinema a ficar tematicamente adulto (já era o melhor do mundo quanto ao espetáculo e savoir faire).
Também bateu recordes de renda nos Estados Unidos. Por exemplo: na primeira semana de exibição no Cinema I, em Nova York, rendeu mais de 81 mil dólares e, assim, se transformou na maior arrecadação semanal já obtida por qualquer sala de espetáculos no East Side. Parece que a simples notícia de que Ann Margret havia engordado por encomenda da produção, a fim de embalonar ainda mais os seios, deu ultra-oxigênio às bilheterias. E, no elenco, figuram também outros nomes de prestigio, como Candice Bergen e Jack Nicholson.
O diretor Mike Nichols (Michael Igor Peschkowsky), berlinense de 41 anos, descendente de russos pelo lado paterno, já é um dos top atualmente em Hollywood. Após ter chegado aos Estados Unidos, com os pais, aos sete anos de idade, fugindo da perseguição nazista, cursou vários colégios e iniciou-se em clubes, televisão e ribalta. A seguir, tornou-se diretor de teatro e então ganhou fama e acumulou prêmios. Foi em 1966 que realizou a primeira incursão, como cineasta, através da conhecida peça de Edward Albee, Who's Afraid of Vlrginia Woolf? (Quem Tem Mêdo de Virgínia Woolf?), e dirigindo Elizabeth Taylor, Richard Burton, Sandy Dennis e George Segal. Muitos elogios e alguns, mesmo, chegaram a comparar a sua estréia como a de Orson Welles. Obtêve, com êsse filme, o prêmio de direção da National Association of Theatre Owners. Logo a seguir, não foi por menos: com The Graduate (A Primeira Noite de um Homem), de 1967, a marcar também a aparição vitoriosa de Dustin Hoffman, recebeu o Oscar de melhor diretor. No ano imediato, repisando o êxito, rodou a adaptação do romance best-seller, de Joseph Heller, Catch 22.
Agora, Carnal Knowledge, estourando bilheterias. Mike Nichols foi produtor e diretor. O roteiro é de Jules Feiffer e aí está a razão de ser uma fita cujo ponto forte, segundo Gordon Gow, reside na agudeza e precisão de suas palavras. Para a fotografia, foram buscar o número um do cinema italiano, Giuseppe Rotunne. Os principais papéis são vividos por Candice Bergen, Ann Margret, Jack Nicholson, Arthur Garfunkel, Cynthia O'Neal e Rita Moreno.
Grande parte inicial da obra decorre na década de 1940, sob o som típico de Glenn Miller. O aprendizado dos então jovens não vem até a década, mas à idade dos quarenta, na Nova York de hoje. Para o mencionado Gordon Gow (Films and Filming), trata-se de uma caricatura sexualmente obsecada do all-American dream boat. Portanto, não é à toa a presença de Ann Margret, que, aliás, com aquêles dois filmes insípidos, ao lado de Vittorio Gassmann, andava pelas sombras, após haver despontado como promessa de se tornar um dos maiores anjos eróticos do paraíso norte-americano. Quem se lembra de Amor à Tôda Velocidade (Love in Las Vegas), de George Sidney, sabe muito bem disso. Quanto a Candice Bergen, mais princesa e embora um pouco menos "carnal", não deixa de acompanhar as pegadas de Ann, ficando a cargo de Jack Nicholson e Artur Garfunkel tirar as provas.
Afinal, muitos querem saber o sabôr da carne. Aqui, no Brasil, no entanto, tudo permanece na dependência do carnal excitement dos censores.
Correio da Manhã
03/02/1972