Assim como ocorre com Alberto Moravia, o cinema italiano recorre à obra de Vasco Pratolini. Nascido em Florença em 1913, é um dos nomes principais da literatura em seu país, havendo publicado Metello em 1955. Trata-se êste livro do primeiro de uma trilogia de romances, destinada a abordar a história das lutas operárias na Itália, mormente na realidade florentina – não mais a de Dante, mas aquela do Rei Humberto, na abertura do século atual. Uma piccola comédia humana, na nota só de um inferno inglório de fome, repressão policial e injustiça social. As narrativas de Pratolini vêm cunhadas de lances auto-biográficos (antes de se consagrar como escritor, êle perambulou pela sua cidade natal, numa vida de extrema pobreza, em profissões humildes), na perspectiva de pietà e arte, como faz lembrar Otto Maria Carpeaux.
Metello (o livro) é considerado como um clássico da literatura neo-realista. A tanto não chega Metello, o filme, o entrecho dramático embora sujeito a maiores variações, invoca I Compagni de Mario Monicelli (primeira greve de operários em Turim), mas sem idêntica vibração e intensidade. Aqui, estamos diante de um processo que se tomou comum, após a fase inicial, mais inventiva e heróica, do movimento cinematográfico: a estilização do neo-realismo.
O diretor, Mauro Bolognini, talvez seja o melhor, do segundo time italiano, isto é, logo abaixo dos bambas Fellini, Rosselini, Visconti, Antonioni, De Sica (da primeira fase neo-realista). Traz, em sua filmografia, realizações geralmente de bom nível, como Il Bel'Antonio (O Belo Antonio), La Viaccia (Caminho Amargo), La Giornata Balord (Um Dia de Enlouquecer) ou La Notte Brava (A Longa Noite de Loucuras). Agora, surge com outra fita à mesma altura das acima mencionadas, (onde encontra pretexto para concretizar intenso exercício de estilo: o ritmo, quase sempre funcionalmente lento, a permitir o esfôrço de aprofundamento dramático, ao lado de um elogiável fluxo de plasticidade, graças à fotografia muito boa de Ennio Guarnieri, carregando sôbre as côres mortas. Já a música de Ennio Morricone estriba-se no repisar de uns bonitos acordes, que enseja o sublinhamento soturno da trama. Nada de lances pretensamente sensacionais, nada de bossa ou godardices - a discreção da câmara em favor da exposição dramático-ideológica.
Os intérpretes correspondem às solicitações no entrecho. Massimo Ranieri compõe com sinceridade o protagonista, assim como Ottavia Piccolo, que, no papel de Ersilia, ganhou prêmio em Cannes. Lucia Bosé, que já foi uma das mulheres mais bonitas do cinema, reaparece passada, mas muito bem como a da dona da fazenda, com quem o protagonista iniciase na arte de bem amar.
Última Hora
07/10/1971