O diretor, Franco Giraldl, deu a impressão de mero, espectador privilegiado, por detrás do visor ou acotovelando-se entre os atores As vêzes, o close-up de praxe, tomadas turísticas (um lago, o chalé, um palácio antigo, com seus afrescos e objetos de arte, além de camas, muitas camas), ou o bossismo de tomadas verticais (de cima para baixo), ninguém sabe porque ou pra que.
Ugo Tognazzl deve ter cuidado. Já começa a enfadar, repetindo sempre o mesmo papel, as mesmas caretas, a mesma cara abestalhada diante das mesmas situações de boca de alcova. Senta Berger não se despe, sequer aparece nos chamados trajes menores. O espectador tem toda razão em indagar sobre que motivo, então, para sua agradável presença, principalmente como protagonista.
O espírito da trama poderia ser muito melhor aproveitado. Cuori Solitari narra a história de um casal dominado pelo mútuo enfado, que nem as lanchas, o luxo e a paisagem conseguem aliviar. Ele começa, em decorrência, a bolar espécies de ménages à quatre eventuais, possivelmente à la carte do erotismo, dada a formação quadrada do couple. Ela vai topando as tentativas, algo a contragosto; no final, na hora da verdade, o marido se arrepende e fica macambúzio, pensando que só a mulher havia realizado aquilo que ele idealizara, mas fracassara. Em suma, a surrada preocupação em ser cornuto, já superada, com o sadio advento do neopaganismo, em todos os centros urbanos, desenvolvidos, civilizados.
A comédia italiana sempre se caracterizou pelo macarrônico, pela grossura, salpicados com aquele falatório quase incessante. Além de Tognazzi, muita gente já se celebrizara no gênero, como Totó, Alberto Sordi ou Nino Manfredi. Até mesmo Vittorio Gassman ou o outro xará, muito maior em termos de história de cinema (como diretor), o De Sica. Agora, Cuori Solitari pretendeu, algo discretamente, a sofisticação, que traduz apanágio dos americanos, inglêses e, também diversas vêzes, dos franceses.
O resultado é desastroso. Sofisticação exige sutilezas que, pelo visto, estão longe de passar pela imaginação de Franco Giraldi. Além disso, muito, muito mais classe dos intérpretes que vivem os dois protagonistas.
A clave do lugar-comum já aparece na primeira cena, salpicada pelos letreiros, em que, no barco, o casal, quase silencioso, fica imaginando as frases que cada qual vai emitir. Nem o Conselheiro Acácio acharia interessante. Depois, segue tudo na idêntica batida, agravada pela instalação da monotonia. O sorriso é um favor. O riso vira pepita dourada, na enchente que não traz nenhum achado, somente bagulhos.
Última Hora
28/04/1972