Divertido. Mas como continuam atirando mal os guardas de penitenciária de Hollywood. James Lake (Raymond St. Jacques) é um negro que atrai as mulheres - estava cumprindo pena por ter sido injustamente acusado de estuprar e assassinar uma jovem, tudo isso também por causa do preconceito racial. Então arranjou uma corda (o roteirista não diz como, mas não faz mal) e vai esgueirando-se pelo patio do presídio. É dado o alarma e o farol da tôrre localiza-o num imenso círculo de luz. Acertá-lo seria uma barbada maior do que cavalo argentino em grande prêmio no Brasil. Os guardas, porém, dão uma (uma não, várias) de Jairzinho à porta do gol. Atiram incessantemente e neca - pelo contrário, acabam fazendo gol contra, isto é, matam um dos próprios companheiros de vigilância. Nesta altura, St. Jacques sobe assobiando o muro, enquanto as balas assobiam impotentes. Nesta altura também - ainda estamos antes dos créditos - o espectador mais experiente já vai vendo tudo. Agora, St. Jacques está na estrada e um carro pára. Lá dentro quem está, algo inchado pelo álcool, é Kervin McCarthy, que já teve melhores oportunidades em sua carreira. Ele é Leslie, marido de sulista rica e, fisicamente, nada desprezível (Dana Wynter). Reconhece o foragido e, logo, tem uma idéia na cachola: facilitar-lhe a fuga, com dez mil dólares no bôlso, em seu avião particular, em troca do assassinato de sua espôsa - pois receia que ela queira pedir divórcio e desmontá-lo do tutu latejante. St. Jacques, que é bonzinho, e só fugiu da prisão para tentar provar sua inocência e dar piparotes nuns e noutros que o maltrataram, recusa, negaceia, refuga inclusive uma dose de J&B (até com certa razão, pois é o uísque que Paulo Francis dá ao seu mordomo), mas, face à ameaça de um telefonema ao xerife, sobe no quarto de Dana e, em vez de matá-lá, deixa-a apenas sem sentidos, iludindo Kervin e saindo com o dinheiro e o carro dêste. Ai começa a confusão: chega a polícia sirenando, Dana acorda e Kervin fica perplexo. St. Jacques embrenha-se nas matas e começam uns flashes-backs lançados de forma primária. Vemo-lo pintando a cara de Barbara McNair, enquanto esta canta no cabaré; ela vai até êle, apaixona-se logo, vão pra cama, ela tira a roupa e aí entra a censura e corta-lhe os seios (a censura, como já disse, confunde, amiúde, à era do porta-seios com a do corta-seios). Mas não é só isso: entra também a polícia e logo a figura fácil de um homem fardado e truculento dá-lhe um chute na boca. St. Jacques fica agachado cuspindo tinta vermelha ou mistura de leite com groselha. Voltamos ao presente e a uma cena agradável: Kervin, na cama, consola Dana e, no caso, pelo menos em parte, a censura deu chance: o espectador pode aquilatar os seios dela. De nôvo o foragido em sua odisséia, entremeada de outros flashes-backs primários. O corre-corre, reações de preconceito racial, tôdas as mulheres querendo domir com ele, até que, no fim, após balas, tapas e pontapés, durante um tiroteio, fica esclarecido que o assassino da môça era o seu próprio padrasto, que morre no campo de batalha. Dana também percebeu tôda a trama do marido, descobre que o negro é que é o bonzinho, ajuda-o e, no final, dá a mão a ele, prometendo que irá auxiliá-lo no nôvo julgamento e - quem sabe? – dar-lhe otras cositas más, muito mais saborosas. Isto é Caminho do Patíbulo (If He Hollers let Him Go), em exibição com cópia algo precária. O produtor-diretor-roteirista chama-se Charles Martin. Não há pois como desculpá-lo pelo filme; devia estar prêso em lugar de St. Jacques.
Correio da Manhã
17/05/1970