Stíletto é um filme na linha de Bullit - a estesia da violência. Refinamento, dinamismo e o fluxo amoral, saudável, no salto para o espetáculo. Desde o início, prefigura-se o show cinematográfico: uma seqüência-prefixo, filmada em tons amarelados, sombrios, relata a tentativa de estupro e linchamento, quando então Matteo (Joseph Wiseman.) salva Cesare (Alex Cord) com um tiro de espingarda e, aí, já se sugere a fixação homossexual do primeiro - a ser retomada na cena do reencontro, na Itália, quando contempla, das ruínas, à beira-mar, a chegada algo imponente do então Conde Cardinali, a cavalo. Após o prefixo, vêm os créditos, encorpados em outra seqüência muito bem construída, no cassino, onde em paralelo ao assassinato da testemunha, no clima de euforia, escorre o decote e saltam os seios de uma jogadora.
Os dois movimentos já dão o sentido do espetáculo. Os décors sempre bem caprichados, a fotografia muito eficaz de Jack Priestly, bom acompanhamento musical de Sid Ramin, formam um suporte admirável para a trama. Um dos melhores atôres coadjuvantes do cinema, Joseph Wiseman, reaparece muito seguro. Alex Cord tem de sobras as condições atléticas para o seu papel, de estirpe bondiana. Patrick O'Neal é o policial frio, amoral, para quem os meios valem sempre. Em suma, duas agradáveis presenças femininas: a sueca Britt Ekland e a mulata Barbara McNair. Configuram a contribuição do erotismo, especialmente a primeira em algumas cenas de cama arrojadas.
O entrecho, baseado em romance de Harold Robbins, gira em tôrno das atividades da Máfia nos Estados Unidos. Cesare (Alex Cord), depois de salvo por Matteo (Wiseman), tornou-se o rico, disputado, sofisticado Cardinali, vivendo no luxo e no perigo das corridas de automóveis ou nos crimes que, com a sua precisão no estilete, executa para a Máfia. Até que resolve se desligar dela, quando, então, verá que as coisas não lhe serão tão fáceis de concretizar. Nisso tudo, cenas excelentes, como aquela em que Cardinali asfixia com o plástico o assassino que tentara alvejá-lo ou o trecho final do ajuste de contas, com um arremate de encerramento, sêco e algo inesperado.
O ritmo imprimido pelo diretor, Bernard M. Kowalski, é sincopado, obedece a elisões abruptas. Um jôgo de elipses narrativas que adota a síntese, por justaposição de seqüências, em lugar da técnica do fluir. A própria violência é, assim, estrutural: as cenas se empilham como impactos mútuos, em clima de choque. Sem ser nenhuma obra de importância, Stiletto constitui uma das fitas mais atraentes e instigantes destas últimas semanas.
Correio da Manhã
05/05/1970