Uma das iniciativas culturais da maior importância na area cinematográfica será a mostra - que se inicia segunda-feira próxima e termina a 26 de agôsto - dos 72 curta-metragens internacionais premiados no Festival de Oberhausen, entre 1959 e 1970, numa promoção do Instituto Cultural Brasil-Alemanha e da Cinemateca do Museu de Arte Moderna, a ser realizada no auditório desta última, em três sessões diárias (16, 18 e 20h). Nada menos de 19 países permanecerão repíesentados: Argentina, Bélgica, Brasil, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Hungria, lugoslávia, Japão, Países Baixos, Polónia, República Federal da Alemanha, Roménia, Suécia, Tcheco-Eslováquia, União Soviética e Venezuela. E nomes de cineastas bastante conhecidos, alguns já consagrados até no longa-metragem, como Ed Emshwiller, Agnés Varda, Chris Marker, Bert Haanstra, Joaquim Pedro de Andrade, Dusan Vukotlc, Roman Polanski, Pierre Étaix, Kenneth Anger, Jiri Trnka, Alexander Kluge e outros.
O interesse sobre o curta-metragem (documentário, animação, experimentalismo, divulgação cultural etc.) encerra, de certo modo, o interêsse sôbre o próprio transformismo da linguagem cinematográfica. Grande parte dos principais cineastas do mundo, ou se inicia dentro do estúdio ou através dos primeiros chutes via curta-metragem. E, neste último caso a liberdade de experimentação e, mesmo, de temática, dado o custo menor de produção, permite lances de invenção, de avant-garde, de polêmica. Pois não é a todo momento que se encontra uma RKO disposta a dar dinheiro para um Orson Welles fazer um Cidadão Kane. E muitos filmes curtos ficaram na história, assinalados como obras antológicas, repisados intensamente em festivais retrospectivos - desde o Chien Andalou, de Buñuel, ou Étoile de Mer, de Man Ray, até, mais recentemente, Nuit et Brouillard ou Toute La Mémoire du Monde, de Resnais, sem falar nos notáveis achados na area da animação, desde Walt Disney, passando por Tom & Jerry até os especialistas da Cortina de Ferro. Talvez haja sido, pelo menos em boa dose, a vivência que os cineastas franceses tiveram com o documentário de curta-metragem, que lhes tenha permitido forjar a grande dialética estrutural do cinema moderno - documentário x ficção, ou documentário fictício e ficção documental - rompendo com os cânones simplórios, ensejados pela opra de um Flaherty ou um Grierson. Até no âmbito da fita de propaganda existem resultados bastante interessantes, como aquêles proporcionados pelo canadense Grant Munro, quando, durante sua estada aqui, no ano passado, por ocasião do II FIF, mostrou-nos dois exemplos instigantes do filme-pílula (duração de cerca de um ou dois minutos), encomenda do govêrno do Canada para desestimular o uso do fumo.
No Brasil, o curta-metragem desenvolve-se bastante, existem resultados ótimos ao nível internacional. Ver o melhor de Oberhausen é uma experiência e um estímulo, além de dever estimular uma política mais efetiva para a divulgação do curta-metragem.
Correio da Manhã
13/08/1970