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Uma sombra passou por aqui

The Illustrated Man é uma adaptação cinematograflca do livro de contos homônimo de Ray Bradbury. No livro, os contos possuem uma vinculação também anedótica com o encontro do rapaz com o homem ilustrado, à beira do lago, depois de se haverem banhado. As tatuagens, com todas as suas recorrências de natureza alquímica, seguem o princípio das constelações (aqui, constelaçoes de contos), operado pelo escritor. Na medida em que Willie (Robert Drivas) imerge a vista no corpo de Carl (Rod Steiger) e se fixa nos desenhos em formas de volutas, brota uma história e a noção de tempo perde a linearidade em favor do embaralhamento acronológico.
O roteiro de Howard B. Kreisek não poderia, evidentemente, dar conta das dezenas de histórias que Bradbury féz, a partir do leit-motiv das ilustrações. Aproveitou algumas: a viagem ao planeta, sob as chuvas torrenciais, a passagem do brinquedo das crianças com o tempo e a da reunião do conselho dos adultos a respeito do fim do mundo. Mas, em paralelo, reforçou o critério da acronologia com os flashes-back, relativos ao encontro anos atrás, de Carl com a mulher estranha e fascinante que o tatuou e que sempre surge, no futuro, como sua mulher. Em suma: o roteiro conseguiu propiciar uma dimensão mais rica àquilo que, em Bradbury, era apenas leit-motiv: a obsessão do amor rasgando o tempo, tornado horizontal pela quebra de linearidade, somada ao assumir de uma espéeie de memória imemorial, cujo eixo ou ponto de referência com a realidade convencional é a margem do lago, onde dialogam permanentemente o homem ilustrado e o rapaz. Não é preciso ir muito mais longe para constatar: estamos, pelo menos axiológicamente, na trilha estrutural de um dos grandes clássicos elo cinema:
O Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais, Os temas da obsessão (Carl e a mulher) e da persuasão (Carl e Willie), sob o crivo da acronologia da história e da memória.
Infelizmente, para aí o nível de analogias de
Uma Sombra Passou Por Aqui com o Ano Passado em Marienbad. Todo um lastro cultural sujerido no roteiro - e que vai, da alquimia, até a futurologia, sem falar nas especulações ontológicas - foi desperdiçado. por uma realização fria, pouco imaginosa, apesar do suporte valioso proporcionado pela fotografia de Philip Lathrop, pela cenografia de Joel Schiller e pelas interpretações de Rod Steiger, Claire Bloom e Robert Drivas. Um mero registro de razoável eficiência na execução do roteiro, raríssimas vêzes permitiu vislumbrar lances de criatividade ou mesmo a noção da grande oportunidade em mãos. Acreditamos mesmo que, em matéria de projeto cinematográfico na area do science-fiction carregado da hipótese de especulações metafísicas ou epistemológicas, The llustrated Man poderia ter passado a figurar em segundo lugar no ranking list, logo abaixo de 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. Aliás, na verdade, do diretor Jack Smight, não se poderia aguardar muita coisa: a sua filmografia denota um retrospecto oscilando entre a mediocridade e a realização simplesmente correta.
O desperdício, por seu turno, não impede que seja uma produção perfeitamente assistível. Existem algumas passagens ou alguns lampejos dignos de nota: a primeira aparição, quase eterea, de Claire Bloom, na varanda, vista num semi-embaçamento através do verde das fôlhas; o episódio desenrolado no planeta sob as chuvas; alguns achados de décor nas habitações do futuro; determinados momentos dos diálogos entre Rod e Robert; enfim, a cena final, violenta, de choque, diferente daquela do livro, com a sua conclusão deixada em aberto. Laméntável apenas o não aproveitamento das idéias contidas no roteiro e a placidez antifuncional de algumas cenas.

Correio da Manhã
07/05/1970

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

As férias de M. Hulot
Jornal do Brasil 17/02/1957

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Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

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Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

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Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
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