O filme científico sobre relações sexuais, parto, doenças venéreas etc., já foi estímulo ao voyeurismo. Havia aquelas sessões em cinemas suspeitos, com a proibição para menores de 21 anos e para pessoas do sexo feminino. Aconteceu até o caso curioso, há cerca de 20 anos, com a fita Veneno Lento, quando, ao passo que um modesto cobrador, com pasta e tudo, ia fazer a sua horazinha erótica, uma médica era barrada da entrada do cinema. Mas, enfim, quase tudo era ensejo para, por detrás do rótulo científico, inserir-se alguns nus ou cenas de strip-tease – inteiramente anti-funcionais, no entanto, sabe-se, ninguém é de ferro.
Hoje, com a maior liberdade e desinibição no enfoque de sexo e adjacências, além da grande evolução dos meios de comunicação, o appeal ao voyeur deixou de ser contrabando. Vê quem quiser, as revistas estão aí, a própria moda suplanta o que era exibido entre quatro paredes. E as filas no cinema, com relação ao gênero, diminuíram bastante.
Que dizer então de Helga, lançado agora em dezenas de salas de espetáculo Um crítico pouco ou nada terá a dizer. Trata-se de uma realização meramente expositiva, sem nenhuma pretenção rítmica, anedótica, de montagem etc., etc. O filme é honesto de um modo geral – pretende, de fato divulgar, em gráficos móveis, a estafante trajetória de hordas de espermatozóides, ou a dança dentro do ventre que fazem as bolinhas brancas representando os óvulos, ou então, a documentação direta de um parto, com todos os acessórios. O espetáculo, no entanto, não se projeta – a monotonia e a reiteração dominam. Mesmo porque, aquelo que seria divulgação arrojada, em Helga, já é, hoje, farta matéria, não só em enciclopédias não especializadas, como até de almanaques.
Uma cor anódina lambuza as imagens. A exposição do assunto é freqüentemente interrompida por verdadeiras conferencias realizadas por médicos e especialistas, ou em sala de aula, ou, informalmente, em casa ou no consultório. E é assim que a pílula, a civilizada pílular, também entra na jogada. E, dourando-a, cenas manjadíssimas de crianças brincando ao ar livre.
Fita didática, sem arte, sem diversão. E sequer uma cinegrafia mais caprichada, a fim de, pelo menos, assegurar o encanto do envólucro. A cobaia: Helga é loura como o nome exige.
Correio da Manhã
05/11/1970