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“Suspension of Disbelief”

A administração do Instituto Nacional do Cinema mudou no momento exato de um dos maiores impasses do cinema brasileiro e da própria comercialização do cinema em si, aqui entre nós, haja vista declarações de produtores, exibidores, distribuidores, cineastas, críticos etc. O nôvo presidente do INC chega num momento de decisão, quando, possivelmente, serão alteradas algumas diretrizes da politica de ação.
A começar pelo formalismo ufanista., até há pouco dominante, e que não tomava em conta a dialética da oferta e da procura, vários takes, em montagem de frases, conclusões ou observações, podem conferir o contôrno e o colorido da crise:
1 - se na grande maioria dos principais centros produtores, o número de filmes de longa-metragem decresce, por que no Brasil, mais atrasado técnica, criativa e industrialmente, êsse número cresce de modo galopante?
2 - a não ser em exceções decorrentes de condições peculiares, como o cinema soviético na década de 1920, é muito difícil se conceber vanguardismo ou até o underground patrocinados pelo Estado;
3 - em contrapartida (e contradição), os mesmos adeptos da criação contínua querem, para o cinema, tratamento econômico-financeiro igual ao do café, petróleo, feijão, trator etc.;
4 - aqui no Rio, já se verificou o fenômeno de suspensão das projeções nas salas de espetáculo por absoluta ausência de público destinado a cumprir o formalismo exagerado dos dias de exibição obrigatória de fita nacional.
Retoma a velha polémica de interêsses cruzados entre produtores e exibidores. Os primeiros desejam, com fins naturais de lucro, colocar o máximo de filmes no máximo de cinemas. Os segundos, para os mesmos fins, desejam engulir o mínimo possível de abacaxi.
E o público? Ele paga - mas não pela causa de um ou de outro e sim por um espetáculo que lhe desperte a atenção. Esse público, no papel de fôrça de consumo, poucas vêzes é levado em consideração.
É verdade que a maioria das salas de espetáculo apresenta condições precárias de projeção, confôrto e higiene. Entretanto, não se pode culpar os exibidores por tudo. Mal ou bem, estamos num regime capitalista, da chamada livre emprêsa ou livre iniciativa. Isto representa perspectiva de lucros e reinvestimentos: como planejar sob o cutelo deficitário de 98 dias de filme nacional obrigatório e o êxodo do público, instalado em casa, assistindo, inclusive, fitas pela TV? Ou será que ainda não se percebeu que o maior rival do filme nacional é o filme dublado na TV?
A legislação do cinema precisa ser alterada. Num país imenso, de largos desníveis sócio-culturais, é impossível aplicar, para todos os locais, as mesmas normas quantitativas de dias de exibição obrigatória. Talvez, apesar da TV, dê certo no interior, Nos grandes centros urbanos é dor de cabeça, não só para exibidores e produtores, mas também para os órgãos federais que financiam projetos inviáveis em matéria de rentabilidade.
Tôdas as alterações, entretanto, não devem perturbar aquilo que, mal ou bem, foi conquistado. O estímulo à criatividade não pode ser cortado. O estímulo ao curta-metragem (um dos pontos onde melhor se forja e desenvolve essa criatividade) deve ser ampliado, porém em bases mais efetivas dos que as atuais. Enfim, menos prêmios e panegíricos patriotistas e mais suporte na realidade da conquista de um público. Cinema traduz indústria e cultura, comércio e criação. O ideal não é o dinheiro e, sim, o óbvio: o máximo de produção para o máximo de criação. No meio do caminho, o entretenimento. Quanto ao desfraldar promocional, oficial ou não, está longe de iludir um público, já, por si, tão malicioso, para imergir à toa em transes de suspension of disbelief.

Correio da Manhã
29/07/1971

 
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