Uma coprodução franco-brasileira, com o título francês de OES 117 prend des Vacances. Logo após uns cinco minutos de produção, pressente-se a indigência total do espetáculo, de lamentável pobreza técnica (por exemplo, o personagem dá ou leva um soco, pontapé ou carícia análoga e o ruído correspondente à pancada e gueda do corpo chega antes ou depois - nunca no mesmo instante), de um enrêdo que qualquer ginasiano repeliria.
Aos dez minutos de bola em jôgo, o espectador mais pessimista já está, em última instância, apelando para o nudismo, já que o elenco apresenta algumas mulheres apreciáveis. Elsa Martinelli, Genéviêve Grad e Rossana Ghessa. No meio delas, estão Norma Bengell, que apascenta um garôto e lança olhares enigmáticos - ninguém sabe para quem, e a veterana grande atriz, Edwige Feuillere (que também já se despiu em seus áureos tempos, na década de 1930, como em Lucrécia Borgia, de Abel Gance), aqui ridicularizada pela trama, no papel de uma tia caricata do espião (Luc Merenda) em férias no Rio.
Mas o próprio nudismo (a cargo de Elsa Martinelli e Rossana Ghessa, pois Genéviève faz que tira mas não tira) mantém-se muito parco, num verão que, de fogo, não tem quase nada, a não ser uns tirinhos trocados entre espiões e malfeitores. Quanto ao naipe masculino do elenco, estão rigorosamente ridículos Luc Merenda, Tarcísio Meira e Joss Morgane. Sergio Ingst, de óculos e chapéu, circula pelas favelas ou pelos cais, tramando um assassinato que não se concretiza. O diretor Pierre Kalfon não existe. O pisca-pisca e lances de narrativas interiores que utiliza, à la Resnais, só fazem demonstrar que ouviu o galo cantar não sabe onde. Trata-se Verão de Fogo de um espetáculo de última classe, não só ao nível internacional, como ao nível nacional, onde apenas contribui para evocar aquelas incríveis peripecias da pior Atlântida, na década d.e 1940. O que vale indagar.
Correio da Manhã
04/12/1970