Vedo Nudo é um filme à la Dino Risi, divertido, digestivo, sem maiores pretensões, embora apresentando algumas soluções esparsas dotadas de certo interêsse e com algumas situações originais, além da instigação insólita É também o tour de force de Nino Manfredi, fazendo vários papéis, tentando invadir a área de Alberto Sordi, apesar de ser mais sutíl e sofisticado, menos macarrônico e pastelônico do que êste ultimo.
Divide-se a fita em vários episódios, Sylva Koscina, como ela própria, tem um acidente de automóvel, leva a vítima para um hospital e, enquanto esta vai morrendo aos poucos, o medico (Manfredi) encarrega-se de lhe mostrar tudo, prestar homenagens, descrever-lhe um roteiro cinematográfico de sua autoria O mundo irônico bafejado pelo b1á-blá-blá, à italiana. Não é dos episódios mais interessantes.
Manfredi, caracterizado como campônio vesgo e débil mental, está sendo julgado no tribunal, porque, consoante a acusação dos velhinhos, seus vizinhos, resolveu os problemas de celibato com a galinha dêles, à falta de mulher. Uma cena curta que vale apenas pelo histrionismo do ator.
Um funcionário dos correios, bonitão, é perseguido pelas mulheres, mas não dá bola. Parece tímido, porém não é só isso. No recôndito do quarto de pensão, onde alimenta seus sonhos, vemo-lo transformado em mulher, usando chinelo com florzinhas, touca de tomar banho, peignoir, costurando, cozinhando. Sob pseudonimo de Ornella, corresponde-se com um sujeito chamado Ernesto, já apaixonado pela espiritualidade da suposta mulher. Um dia vem da outra cidade a fim de conhecer Ornella Encontra-se com o outro e aí nascem os quiproquós O humor está sempre à beira da grossura, mas não escorrega por esta. A história e algumas situações são interessantes.
Um exemplo bom do cinepílula, episódio em pouquíssimos minutos, é do míope que pensa estar vendo a vizinha, em frente, despida. Põe os óculos e continua a apreciar o seu corpo, pela parte traseira. Afinal descobre que era outra coisa. Aqui, Dino Risi capricha nas soluções cinematográficas, como as lentes do óculos correndo, em close, incessantemente pelas frestas da veneziana.
Um maníaco sexual assola uma pequena cidade, com o seu ataque sucessivo às môças e o assassínio daquelas que não se submetem aos seus caprichos eróticos. A protagonista - a última virgem - faz tudo para evitar o encontro com êle, depois identifica-o num empregado da companhia de telefones e, então, com mêdo, entrega- se, perde a pucélage, e vai mesmo cair no lado contrário, talvez transformar-se em ninfomaníaca. O encadeamento das situações cede ao óbvio.
Um diretor de publicidade, bonitão, metido a elegante e sofisticado, tem muitas mulheres. Depois de que, certo dia, deu uma de belo antônio, passa por alucinação psíquica permanente, vendo tôdas as mulheres nuas. Interna-se numa clínica e, então; projeta-se a sátira à psicanálise. Até o final-surprêsa. É o episódio mais bem administrado, com alguns lances bem sacados.
Assim é Vejo Tudo Nu (título do último episódio). O entretenimento flui e não vai amolar niriguém.
Correio da Manhã
16/08/1970