Kill, Baby, Kill é mais uma experiência de Mario Bava (nascido em San Remo, em 1914, primeiramente fotógrafo, depois diretor) com o gênero fantástico Bava é uma espécie de Terence Fisher italiano, sendo que as suas produções, tais como as britânicas da Carreras, apresentam, amiúde, um minimo de cuidados. Seu primeiro filme foi La Maschera dei Diavolo, uma tentativa de incursão no horror, dotada de certo interêsse. Uma outra realização sua, um pouco anterior a Kill, Baby, Kill, foi a transposição das aventuras de um herói de comics - Diabolik - para a tela. Apesar de razoàvelrnente administrada, não denotou maior capacidade de instigação, com a exceção de uma ou outra cena.
Mata, Baby, Mata não acrescenta grandes coisas à sua carreira. De nôvo, uma produção cuidada, tal como as da matriz inglêsa, onde o diretor, dentro do leit motiv da bruxaria, conjuga expressionismo com academismo A impressão que se tem é de se estar diante de uma fita consumada há cêrca de trinta anos, com o mesmo espírito antiqüidado de solucionar as seqüências. A fotografia, como sempre nos seus filmes, é muito caprichada, procurando intensificar os macêtes expressionistas ao nível cromático. Não faltam as teias de aranha, as ruas desertas e sombrias, o claro-escuro e os lances de susto, obedecendo, no entanto, a uma técnica que faria a pequena glória de um sub-Hitchcock dos anos 30. No final, até parece seriado mudo com o mocinho - depois de tanto susto, tantas mortes ou tantas aparições - enlaçando o ombro da mocinha.
Os atôres não estão maus, mas pouco podem ajudar numa obra desse quilate, que, geralmente, repousa, quase que inteira, sobre ritmo e tratamento visual. O protagonista é G Rossi Stuart e Erika Blanc, bonitinha, faz o papel da mocinha, que, sem saber, era irmã da menina-fantasma, que levava as vítimas à morte violenta. A erótica Fabienne Dali interpreta uma das feiticeiras e, lamentàvelmente, por incrível que pareça, não se despe - mais um deficit a contar contra essa produção.
A história é convencional: mais uma aldeia da Euopa Central, no século passado, dominada pela maldição e pela ação das feiticeiras Ninguém dorme ou sossega - o ocultismo é um recurso permanente de ataque e defesa - poucos escapam da sanha homicida dos maus espíritos, inclusive o próprio burgomestre (amante de Fabienne), cuja presença, com a cabeça raspada, dá a impressão de ser uma mistura de Yul Brynner com autômato de Fu-Manchu. Lá chega um médico-legista, homem de ciência, que faz fôrça para não acreditar nas fantasmagorias. Em vão. Na época, inexistia a parapsicologia, a fim de ilustrá-lo. Nem também quis tomar em consideracão a existência de coisas inexplicáveis à nossa vã filosofia ou à de Cristo - ou que aquilo que se chama de realidade, é uma mera capa convencional sôbre os acontecimentos, destinada somente a marcar o campo do jôgo racionalista. Então, o nosso personagem acaba também quase tragado pelos fatos, escapando por um triz. Mas parece que, ao fim, aprendeu a lição. Quem não soube ministrá-la, em têrmos cinematográficos, foi o diretor. De qualquer forma, Mata, Baby, Mata, até certo ponto, pode ser assistível como recreação.
Correio da Manhã
20/05/1970