Reginaldo Farias havia se revelado com Os Paqueras, um dos pontos altos do cinema digestivo nacional, mediante um ritmo funcionalmente descontraido, em consonância com o mito da paqueragem, além de alguns recursos tonais bem empregados. Os Paqueras, devido à sua leveza e indiscutlvel comicidade, foi uma das nossas fitas que, nos últimos tempos, mais alto índice de bilheteria veio a alcançar.
Animado pelo êxito, o diretor, em seu segundo filme, Para Quem Fica… Tchau, retorna tentando explorar o mesmo filão - comédia urbana, o instituto bem carioca da paqueragem, côres, ritmo desenvolto etc. Verdade que conferiu maiores pinceladas dramáticas em seu nôvo argumento: a história do rapazinho que chega do interior, hospeda-se no apartamento (Ipanema, ora, ora) do primo mais velho e já experimentado no esporte das mulheres, adere como neófito à paqueragem, mas se apaixona por uma mulher casada e mais velha do que êle, que termina por abandoná-lo. Voltará à província, mas na próxima incursão carioca, virá com mais cancha e savoir faire.
Drama e comédia, assim, se entremeiam, embora tudo acabe bem, consoante reza o figurino do gênero, Mas, na verdade, embora realizando uma fita até certo ponto agradável, Reginaldo Farias não consegue obter o mesmo êxito que com Os Paqueras. Se, de um lado, a cinegrafia de José Medeiros mantém o bom nível anterior, extraindo alguns bons efeitos cromáticos, e em especial nas cenas com Rosana Tapajós, que é realmente bonita, as situações apresentadas são mais chôchas, poucas as passagens deveras hilariantes. As melhores coisas são, de fato, as seqüências evocativas do idílio entre o menino e a mulher, sem falar no achado trágico-burlesco da morte do marido eternamente desconfiado.
O novato Stepan Nercessian defende-se como pode de um papel difícil, e, para o qual, não apresenta a figura inteiramente a figura adequada. Mas vê-se que poderá render mais em outras ocasiões. Reginaldo Farias reservou-se para uma posição de quase coadjuvante, passando a ter pouco o que fazer quando a trama começa a ganhar seus contornos definitivos. Rosana Tapajós sabe se expressar bem. José Lewgoy tem uma aparicão mínima, caricata, como sempre eficaz.
Para Quem Fica... Tchau é tão somente uma produção regular, com altos e baixos. Mas se foi outra oportunidade, no gênero, mal aproveitada, não deve ser esquecida, pois traduz um gênero bem nosso, em suas peculiaridades.
Correio da Manhã
27/01/1971