Griffith descobriu o cinema, as virtualidades das eleições entre os takes. Eisenstein, logo depois, foi quem melhor sistematizou, racionalizou e teorizou sobre os elementos da nova arte. Orson Welles e Max Ophüls, posteriormente, aumentaram quantativamente o número de elementos e, em decorrência, das possibilidades de relações.
Agora, Alain Resnais inventa a linguagem do cinema. A autonomia da nova arte, dotada de um critério de estruturação substantivo, isto é, a sua formatividade não vigora como totalização adjetiva a uma experiência anterior – ela é a experiência. Até então, entre o signo cinematográfico e a sua apreensão pelo espectador, existia o suporte da linguagem verbal – um index remetendo, em última instância, ao pensamento lógico-analítico.
Resnais iludiu simplesmente tal intermediário – a representatividade. Pede-se agora, a aferição analógica e conotativa. Ninguém “entenderá” seu filme, socorrendo-se das formulações de uma interpretação discursiva. Nem pode a critica utilizar o mesmo mecanismo de deduzir o complexo de elementos, que emprega na abordagem de outros diretores.
Não há um vértice absoluto de comando a se depreender. O conteúdo é dialético – aberto. A dialética motovisual-sonora dos travellings que cortam e penetram, inaugurando um espaço permanentemente definido e re-definido pela duração das imagens (e aquela de Delphin Seyrig, em primeiro plano, a se debater no branco constitui a mais puta sensação de estésia em toda a história do cinema); e vice-versa.
Resnais foi coerente com seu processo, vislumbrado fragmentariamente em Hiroshima Mon Amou (a acronologia indo até o próprio plano) Agora, antes de estar sob Eisenstein, está sob Einstein. E o cinema do futuro está sob o signo de Marienbad.
Correio da Manhã
10/06/1962