Tick... Tlck... Tick não acrescenta nada à carreira de Ralph Nelson. Mais um filme em torno de preconceito racial, com a história de uma cidade norte-americana que passa a ter, eleito, um xerife negro. Ai, é evidente, começam os conflitos e os shows de bom-mocismo da parte de alguns brancos, livres do ódio racial. O principal deles é o ex-xerife, derrotado no pleito, interpretado por George Kennedy, e que, quando vê o sucessor colored em apuros, não hesita em catar a estrêla de sub-xerife e voltar às atividades.
Tudo em côres e com algumas cenas movimentadas para dourar a pílula. Inexiste tentativa, sequer a intenção, de aprofundamento psico-sociológico. É o vai-da-valsa permanente, metrificado no old style para o Old South. Ao fim, negros e brancos unidos estarão armados na boca da ponte para evitar que os habitantes do distrito vizinho invadam a sua terra. Jim Brown (o black sheriff) sente-se tão prestigiado que se dâ ao luxo de, no carro, dizer ao prefeito que vai concorrer contra êle nas próximas eleições, ficando a luta pelo cargo de xerife entregue ao seu irmão. Maravilhoso. Seria maravilhosa também uma realidade utópica. O argumento de Nelson e Lee Barrett demonstra que não há limites para o otimismo. Não me espanta que, amanhã, forjem um plot, onde elementos da Pantera Negra e da Ku Klux Klan estejam irmanados reclamando, por exemplo, contra a guerra do Vietnam ou contra o apoio que o Govêrno Nixon dá aos regimes de direita na América Latina.
Algumas seqüências um pouco mais movimentadas garantem o mínimo de recreaçao inconseqüente. O resto (ou quase tudo) se resume na contrafação do american way of life no âmbito provinciano. Salvam-se as interpretações dos principais protagonistas, Jim Brown, George Kennedy e Fredric March, especialmente êste último, dominando as cenas em que aparece, no papel do prefeito cheio de tiques. Tick-tick-tick.
Correio da Manhã
26/05/1970